Textos do dramaturgo alemão Heiner Müller e da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen serviram de inspiração a dois espetáculos que têm estreia marcada para o Teatro Viriato, em Viseu, até ao final do ano.
“A Missão”, sobre Heine Müller, com encenação do Teatro da Cidade, será apresentada pela primeira vez no dia 10 de novembro e desafiará o público a repensar a ética política e social.
“Na escolha deste texto (‘A Missão: Memória de uma revolução’, de Heiner Muller) estiveram presentes os participantes do Clube de Leitura realizado em 2022” em Viseu, afirmou o diretor artístico do Teatro Viriato, Henrique Amoedo, durante a conferência de imprensa de apresentação da programação para o último quadrimestre do ano.
Segundo Guilherme Gomes, um dos fundadores do Teatro da Cidade, o clássico moderno de Heiner Müller representa “um regresso ao princípio da companhia”, quando esta apresentou um espetáculo baseado na obra “Os Justos”, de Albert Camus.
“Num mundo refém das suas tragédias, o texto de Müller parece colocar-nos em confronto com a imagem da nossa desesperança, talvez para provocar o seu contrário”, considerou o também intérprete.
No seu entender, “é importante estimar aqueles que não desesperam, os que conseguem ver e inspirar visões de futuro”, e essa é “uma das missões que também pode morar num teatro”.
Nos dias 07 e 08 de dezembro, subirá a palco o concerto encenado “Sophia”, com música de Ana Bento e Bruno Pinto, da Gira Sol Azul, e direção artística de Joana Craveiro.
Henrique Amoedo avançou que o espetáculo “une a música, o teatro e os poemas da Sophia de Mello Breyner Andresen” e servirá “para apresentação do terceiro disco do coletivo Gira Sol Azul”.
“É um processo de trabalho que para nós é um privilégio, porque nos tempos que correm é tudo muito rápido, com pouco tempo para criar”, afirmou Ana Bento, explicando que “Sophia” é “um projeto de longo prazo, que começou há uns anos no formato de oficina” na Casa da Música.
“Durante dois anos, esteve em cena uma oficina chamada Musa, alavancada na obra e na vida de Sophia de Mello Breyner Andresen”, recordou, acrescentado que o espetáculo a estrear no Teatro Viriato foi pensado para o público em geral, incluindo a infância.
Até ao final do ano, uma vez por mês, Ana Bento e Bruno Pinto vão também realizar a oficina “Tatabitato”, destinada às famílias e que relaciona a música com as temáticas da programação do Teatro Viriato.
Henrique Amoedo sublinhou que “muita programação é voltada para o público mais novo e isso é de propósito”, porque “o Teatro Viriato tem de começar a trabalhar para os filhos do seu primeiro público”.
Na sua opinião, o Teatro Viriato “fez um trabalho muito importante de formação de públicos na cidade durante os últimos 25 anos”.
“Esse trabalho tem de voltar a ser feito. A população mudou, os interesses dessa população mudaram, a oferta mudou, o teatro tem de perceber isso e também tem de mudar”, defendeu.
O espetáculo performativo de circo contemporâneo “Chá das cinco – peça para quatro amigas mais uma que nunca chega”, da Coração nas Mãos (23 de setembro), a criação “Ovo”, da companhia norueguesa Dybwikdans (de 27 a 30 de setembro), o espetáculo de teatro e música “Espanto”, de Ana Madureira e Vahan Kerovpyan (05 e 06 de outubro), e “Antiprincesas: Joana Azurduy”, de Cláudia Gaiolas (27 e 28 de outubro), serão apresentados com esse objetivo.
Henrique Amoedo referiu que estes são “espetáculos simples na execução e na forma de entendimento, mas que são capazes de tocar as pessoas”.
“Essa programação tão centrada nas crianças, nos jovens, que vai às escolas, aos infantários, que vai ao encontro das pessoas na rua, também ajuda as pessoas a perceberem que o teatro existe e é para todos”, frisou o diretor artístico.
No âmbito de uma parceria com o Cine Clube de Viseu, o Vistacurta apresentará três propostas no Teatro Viriato, uma das quais o filme premiado de Jorge Jácome “Super Natural” (10 de outubro), realizado com a companhia Dançando com a Diferença.
Henrique Amoedo disse que esta sessão será a primeira experiência do Teatro Viriato com leitura fácil, que se juntará à língua gestual portuguesa e à audiodescrição já habituais na programação.
“É a primeira vez que vamos levar isso (a leitura fácil) para cena, fazer dentro de um filme, mas é para continuar. Só que sabemos que vamos encontrar dificuldades”, que obrigarão a ajustes, afirmou o responsável, acrescentando que “é um recurso para que todos entendam o produto artístico”.
Juntamente com a associação Dançando com a Diferença, o Teatro Viriato tem discutido e testado novas formas de acessibilidade e procurado criar novas formas de relacionamento com os projetos artísticos.
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