“Hífen”, livro sobre ligações entre as pessoas, que aborda temas como a maternidade, a imigração e a Europa enquanto espaço múltiplo, chega esta semana às livrarias, depois de ter sido escrito durante cinco a seis anos por Patrícia Portela.
Autora de vários romances e novelas, como “Para Cima e não para Norte” (2008), “Banquete” (2012) e “Dias úteis” (2017), Patrícia Portela lança agora “Hífen”.
“É um livro que acompanha o presente, que aconteceu ao mesmo tempo que foi escrito. É um livro sintonizado”, afirmou à agência Lusa a escritora, que é também diretora do Teatro Viriato, de Viseu.
Segundo Patrícia Portela, este é “um livro sobre hífenes, pontes, ligações e sobre como tudo está nas ligações, não nas coisas, nem nas pessoas”.
“É um livro sobre escrita, mas também sobre a Europa, sobre o que é isto de nós estarmos unidos por estes hifenes, por estas pontes, e se somos, de facto, europeus na maneira como agimos e como vemos o mundo, como nos dedicamos aos outros, como criamos pontes uns com os outros”, explicou.
A escritora contou à Lusa que uma das personagens centrais do romance é Ofélia, “uma mãe imigrante numa Europa que não tem espaço para ela”, mas que há também “uma Maria do Carmo, que é uma enfermeira `android` que deseja ser imperfeita e humana”.
“Elas desejam escrever e ler, num mundo que cada vez sabe menos ligar as palavras por hífenes. Se nós perdermos a ligação entre as coisas, perdemos o significado das coisas”, acrescentou.
No entender da autora, o momento atual pode ser comparado ao de Sócrates e de Platão, com o primeiro a favor da memória e o segundo a favor da escrita.
“Agora andamos a discutir entre a sabedoria da escrita e da leitura e a sabedoria dos algoritmos e da informação que é recolhida por máquinas, por números e por códigos. E estamos exatamente no mesmo sítio da discussão entre Sócrates e Platão”, frisou.
Patrícia Portela questionou se, “com a capacidade de acumular memória nas máquinas e nos discos externos”, não se estará a “perder faculdades”.
“E isso tem uma enorme influência na maneira como pensamos e como nos relacionamos, logo, na maneira como criamos hífenes entre a nossa vida e a dos outros”, afirmou.
O livro aborda a ilusão de ser independente: “ninguém é independente e a pandemia veio provar isso, porque podemos estar sozinhos em casa, mas tem de haver um batalhão de gente para termos água e supermercados cheios. Como é que ignoramos tanta gente em nome de um individualismo sem hífen e sem pontes?”.
A escritora avançou que este “não é um livro catastrófico” e mostra que, mesmo “quando não há essas pontes, procurá-las é uma opção”.
“Se não há pontes, porque é que não somos nós a fazê-las?”, questionou.
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