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Bairro de Moimenta da Beira passa a ter rede de luz e saneamento após 40 anos

O Bairro dos Sinos, ali nas traseiras da Cooperativa Agrícola do Távora, em Moimenta da Beira, tem mais de 40 anos. As primeiras casas foram erguidas em meados da década de 1970 e, durante anos a fio, os moradores viveram literalmente sem infraestruturas básicas.

No lugar de uma rede pública de saneamento, tinham fossas séticas; e em vez de uma rede pública elétrica, a luz chegava à moradia de cada um, de forma clandestina; tal como a água, que corria em tubos improvisados à superfície da terra.

Os arruamentos, esses eram todos em terra batida, maus no verão, maus no inverno, maus todo o ano. Não havia lugares de estacionamento disciplinados, marcados, e muito menos passeios ou espaços verdes. E luz nas ruas, também não havia, era um breu. E era o salve-se quem puder!

Ao fim de quatro décadas, três anos de obras e mais de 400 mil euros investidos, a Câmara Municipal construiu e remodelou quase tudo: arruamentos pavimentados, rede de gás, de eletricidade e iluminação pública.

Lugares de estacionamento, sinalética, espaços verdes, saneamento básico, áreas de acessibilidade pedonal, abastecimento de água potável, rede de baixa tensão e de telecomunicações, drenagem de águas pluviais e residuais, contentores do lixo e recolha de detritos.

Foi tudo feito em pouco mais de três anos. Esse trabalho, que beneficiou diretamente dezena e meia de moradias, deixou também criado todas as condições para mais uma dúzia de casas que ali venham a ser construídas nos lotes de terrenos existentes.

Raúl Loureiro dos Santos foi o primeiro a construir casa no bairro. Começou a erguê-la em 1976 e, três anos depois, estava pronta para ser habitada, e mudou-se para lá. Entretanto, emigrou para a Suíça e enquanto lá esteve foi melhorando a vivenda. Hoje, já reformado de uma vida árdua de trabalho longe da terra, cuida da casa como nunca, e do quintal que a rodeia. Gosta de lá viver e desfruta do espaço, de todo o espaço.

Mas quando revive o passado, quando recua àqueles tempos de falta de luz, de água, de saneamento, de quando os arruamentos ainda eram em terra batida, revive esse passado de sobrolho baixo. “Era uma angústia, um desalento, não tínhamos nada, só a casinha. As ruas esburacadas estragavam os carros. Houve muitos prejuízos. E quando chovia, era uma desgraça. O pessoal da Câmara vinha cá e tapava os buracos maiores, mas depois era outra chuva e tudo ficava igual ou pior ainda. Foi um sofrimento. Agora, felizmente, tudo está diferente, para melhor, para muito melhor”, recorda Raúl dos Santos, que traz à liça uma promessa feita pelo atual Presidente da Câmara, José Eduardo Ferreira. “Recordo-me bem do comício onde ele prometeu fazer todas as obras que o bairro precisava. Prometeu e cumpriu e isso deve ser lembrado”.

Margarida Viana, professora de Português e Francês, das mais antigas do Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira, adquiriu em 1982, em hasta pública, um lote de 36 mil m2 à Junta de Freguesia de Moimenta da Beira. Local: Lugar da Fraga das Forcas. Onde era suposto ser construída uma padaria na planeada Zona Industrial, que acabou por não se instalar ali porque a esperada fábrica “Lactícinios do Paiva” nunca chegou, nem a padaria. Por esse motivo, em frente, dois lotes foram vendidos da mesma forma. E desse tempo, os tubos à superfície lembra-os bem. “Quando vinha o frio, o gelo, não havia água”. E a poeira desavinda da estrada de terra batida. “Até na cama tinha poeira. Era pó por todo o lado”. “Tinha dois postos de eletricidade dentro do meu terreno, tive de negociar com a EDP para os tirar, caso contrário não podia construir a casa”. Em dois dossiês, tem tudo guardado. Licenças pagas, registos, planta da casa. E as memórias de quando os moradores tiveram de fincar o pé para passarem a ter condições dignas. “Hoje está tudo mais limpo, temos caixotes de lixo, não há pó, temos estacionamentos e acabaram-se as fossas séticas. Estão todos ligados à rede de eletricidade. Isso é bom”.

São Libório e Maria José vivem perto uma da outra, mais perto da cooperativa, a primeira há 16 anos, a segunda há mais ainda. Embora nunca tivessem padecido dos problemas dos que viviam mais para o alto do Bairro dos Sinos, lembram-se da água sempre a escorrer pelas ruas abaixo, da lama no Inverno e do pó. “Agora está tudo arranjadinho, alcatroado e com passeios. Tenho uma amiga que para ir trabalhar tinha que andar por cima das pedras. Era só giestas e pedras. Felizmente, limparam também esse terreno”, recorda.

Maria José também corrobora esta opinião, mas adianta: “Eu nem sei bem se isto ainda faz parte do Bairro dos Sinos. Dizem que sim. Mas também dizem que é a Avenida 1º de Maio. Sei que agora parece um bairro a sério, uma área residencial. As pessoas já não se sentem esquecidas”.

 

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