O presidente da Câmara de Cinfães defendeu uma revisão do estatuto de territórios de baixa densidade ou a criação de um novo estatuto, para áreas de muita baixa densidade, para maior justiça e equidade social.
“É preciso rever os estatutos em nome da equidade, da justiça social, da coesão territorial e social”, afirmou Armando Mourisco.
O presidente da Câmara de Cinfães reconhece que “politicamente não é fácil”, porque implica “mexer com o interesse de muitos municípios”, mas então faça-se “um estatuto para [territórios de] baixa densidade e um para [os de] muita baixa densidade”,defendeu.
Em declarações à agência Lusa, o autarca considerou que “o critério não pode ser só a área dividida pelos habitantes”, mas também, “por exemplo, o rendimento ‘per capita’, as acessibilidades, enfim, um conjunto de fatores diferenciadores que podem colocar justiça” nos territórios.
“Fará sentido Cinfães ter o mesmo estatuto que, por exemplo, a cidade de Vila Real ou de Viseu, que também são de baixa densidade? Ou seja, só não é baixa densidade aquilo que está encostado ao litoral?”, questionou.
Neste sentido, o autarca interrogou-se porque é que estes concelhos “têm tratamentos iguais, por serem considerados de baixa densidade, e uns têm universidades, vias de ligação rápidas ferroviárias e rodoviárias para o exterior, hospitais centrais, cuidados de saúde diferenciados ou oferta de transportes e outros não”.
“Porque é que esses territórios hão de ter o mesmo acesso aos fundos comunitários que outros territórios de baixa densidade como Cinfães, Resende ou Baião?”, insistiu o autarca.
Armando Mourisco recordou que o concelho de Cinfães tem 240 quilómetros quadrados, 502 lugares, 14 freguesias e 19.000 habitantes e localidades que estão a 10 metros de altitude e outras a mais de 1100 metros.
“Cinfães não tem acessibilidades ao exterior e tem dificuldades na mobilidade interna pelos meios de transporte, porque é mais caro. Por exemplo, os transportes escolares, para cinco mil alunos em Cinfães, custam três vezes mais do que os transportes escolares para o triplo dos alunos em Paços de Ferreira”, realçou.
Outro exemplo do autarca, tendo em conta a morfologia do concelho, relaciona-se com o abastecimento de água e o saneamento que, atualmente, com taxas de cobertura de 60% 50%, respetivamente. Está em curso um investimento de mais de 10 milhões de euros, mas é impossível atingir os 80% [de cobertura] exigidos” pelas autoridades europeias.
“É preciso repensar e ter coragem política para iniciar esta discussão. Afinal o que é a baixa densidade? Então não é necessário alterar aquilo que são os mecanismos de definição da baixa densidade?”, desafiou o autarca socialista.
Sobre estas questões e sugestões, Armando Mourisco já deu conhecimento, por carta, à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, embora reconheça que “nada disto é novo”, pois “a senhora ministra conhece bem o território”.
Estas preocupações também foram apresentadas pelo autarca, hoje, numa reunião da Comunidade Intermunicipal (CIM) Tâmega e Sousa (da qual Cinfães faz parte), e em que participou o novo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, António Cunha, adiantou.
Outros dos problemas relacionam-se com “centralização do poder em Lisboa, que demora muito a decidir e, entretanto, os investidores privados não podem esperar mais de um ano por uma resposta”, lamentou Armando Mourisco.
“É preciso diferenciar as situações. Tudo é mais caro para o interior, portanto, tem de haver verbas diferenciadas, planos diferenciados para que se possam fixar pessoas e gerar emprego e riqueza”, sintetizou.
“Portugal só recebe fundos comunitários porque há territórios mais desfavorecidos que precisam desses fundos de coesão”, mas “são esses territórios” os “menos beneficiados com esses fundos comunitários”, concluiu.
Comente este artigo