O festival de cinema VistaCurta, organizado pelo Cine Clube de Viseu, propõe um “olhar especial” sobre a África lusófona com realizadores como Margarida Cardoso, Billy Woodberry e Sol de Carvalho como convidados, anunciou hoje a organização.
“Há um filme 100% moçambicano, desde o texto ao realizador [“Mabata Bata”], há São Tomé com [a realizadora] Margarida Cardoso, que também aborda Moçambique, [há o documentarista norte-americano] Billy Woodberry, um homem que aborda as questões coloniais em Angola. E este `puzzle` foi propositado para haver um especial olhar e mais abrangente”, do festival, sobre a África de expressão portuguesa, admitiu o presidente do Cine Clube de Viseu.
Rodrigo Francisco explicou à agência Lusa que “são histórias e filmes que se debruçam sobre as ex-colónias, porque é a luta habitual do cine clube de escavar, de percorrer um caminho de encontrar filmes que não são vistos”.
“Estamos a falar de cinema. São países irmãos, por todas as razões. Mas o cinema deles está mais distante do que se calhar outros cinemas e é essa a missão” dos cine clubes, explicou.
O cine clube organiza o festival de cinema VistaCurta, de 27 a 31 de outubro, em Viseu, e, este ano, conta com a exibição de 29 filmes, 11 curtas-metragens em competição, 15 sessões em sala, dois concertos e uma exposição de fotografia e texto dedicada às mais recentes intempéries de Moçambique.
“Não nos faz muito sentido falar só das coisas sem procurar, sobretudo quando são realidades mais frágeis, apoiar e divulgar. Não é só falar e mostrar é também o como podemos ajudar e contribuir e, daí a ideia de reeditar um livro que está à venda na exposição”, no Museu Almeida Moreira, disse, referindo-se a “O Dia em que a Terra se Fez Mar”, de Tiago Miranda e Raquel Moleiro, e à tempestade Idai que destruiu toda a região da Beira. A receita da venda contribuirá para a Escola Secundária da Manga, desta cidade moçambicana.
Em Viseu, no decorrer do festival, estarão Margarida Cardoso e Billy Woodberry, um dos fundadores do movimento colectivo de cineastas afro-americanos “L.A. Rebellion”, surgido em Los Angeles, que participarão em debates. O cineasta Sol de Carvalho estará através de videoconferência”, na sessão, uma vez que, “dada a distância, não foi possível estar fisicamente”.
Sobre a competição de `curtas`, este ano, por causa da pandemia, o festival “está limitado a 11 [filmes], apesar de haver mais inscrições com um recorde, mas a duração de tempo em sala limitou ao número” de películas a exibir e, por isso, vai haver “uma mostra `online`, o que provavelmente será inédito”, disse.
Também a exibição de filmes em lares e Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que o Cine Clube de Viseu costuma fazer, “porque são dos públicos mais castigados pela pandemia”, tem este ano outra abordagem, por causa da pandemia: a organização resolveu, “em parceria com sete instituições, exibir filmes”, mas sem ir alguém do cine clube falar sobre ele.
“Outra diferença notória do festival é a realização dos dois concertos em horário diurno, o que não aconteceria se não houvesse pandemia”, explicou Rodrigo Francisco à Lusa, adiantando que vão acontecer no Teatro Viriato.
Os Mão Morta Redux, em formato trio, animam ao vivo o filme mudo soviético “A casa na Praça Trúbnaia”, de Boris Barnet.
Quanto a “Um piano afinado pelo cinema”, o concerto conta, “por um lado, com a música original e ao vivo do pianista Filipe Raposo e, por outro, com grandes heróis do cinema mudo, como Charlie Chaplin, Buster Keaton, Georges Méliès”, de quem serão exibidas `curtas` metragens.
Ao longo de cinco dias podem ver-se filmes dos realizadores convidados como “Mabata Bata”, obra sobre o conto de Mia Couto, que abre o festival, e “Monólogos com a história”, ambos de Sol de Carvalho, “A story from Africa”, de Billy Woodberry, “Yvone Kane” e “Understory”, de Margarida Cardoso.
Será ainda feita a antestreia de “Num dia de vento, atira-se ao ar”, de Eva Ângelo, e exibidos títulos como “O peculiar crime do estranho sr. Jacinto”, filme de animação de Bruno Caetano, e apresentado o novo de João Botelho, “O ano da Morte de Ricardo Reis”, sobre o romance de José Saramago.
o filme convidado “O que arde”, do cineasta franco-espanhol Oliver Laxe, inspirado nos incêndios rurais que marcaram a Galiza, encerra o festival.
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