Investigadores do Porto iniciaram este mês na vila de Mortágua, em Viseu, um projeto que, através da implementação de micro-organismos no solo que atuam como “biofertilizantes”, pretende reabilitar as áreas queimadas pelos incêndios.
“Começamos a pensar na utilização de microalgas e de cianobactérias de solo como biofertilizantes para melhorarem a produtividade vegetal. Já tínhamos alguns resultados preliminares nesta área, nomeadamente na aplicação em solos pobres em nutrientes. E, quando abriu o concurso da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), pensamos em aplicar este sistema em solos queimados”, afirmou Paula Tamagnini, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e líder do projeto GreenRehab.
Em declarações à agência Lusa, Paula Tamagnini, também docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), explicou que a ação destes micro-organismos é “muito importante”, na medida em que retém a humidade, nutrientes e impedem a erosão dos solos.
“Os solos queimados precisam de ser reabilitados, o único problema é que estes solos têm grande toxicidade e talvez estes micro-organismos não possam ser aplicados diretamente. Muito provavelmente vamos ter de usar algo intermédio, como a palha, para impedir que os contaminantes do solo matem os micro-organismos”, esclareceu.
O projeto GreenRehab, inserido na área de ‘Restauro pós-fogo e gestão florestal’, arrancou no início deste mês e é um dos projetos aprovados pela FCT no âmbito do Concurso de Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico no Âmbito da Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, com um financiamento de 180 mil euros para os próximos três anos.
Segundo Paula Tamagnini, a “primeira visita de campo” deste projeto, que além de investigadores do i3S reúne também membros do CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos e do GreenUPorto – Sustainable Agrifood Production Research Centre, está prevista para dia o 16 de abril e visa a “recolha de crostas das zonas circundantes às queimadas pelos incêndios”.
“Neste projeto queremos usar estirpes nativas, portanto, micro-organismos daquela área porque a probabilidade de sucesso para reintroduzir é muito maior, na medida em que são também as que tem maior capacidade de sucesso e as características associadas às condições ambientais da zona”, frisou.
À Lusa, a docente da FCUP afirmou que, “apesar” de em laboratório este processo ser “muito rápido”, não tem “ideia” de quanto tempo demorará a revitalização dos solos ardidos, adiantando, contudo, que a equipa pretende dentro de um ano e meio começar “a experimentar os consórcios [mistura de vários micro-organismos] no campo”.
Paula Tamagnini afirmou ainda que o projeto, que visa abranger a população local e ensiná-la a usar os biofertilizantes, poderá alargar-se a outras zonas queimadas do território nacional, dependendo, no entanto, “das características de cada solo”.
“As características do solo podem ser mais problemáticas. Por isso vamos avaliar quanto tempo após o fogo é que se poderá aplicar este sistema, se será ideal aplicar e como se deve aplicar. Mas, achamos que vamos conseguir aplicá-lo em qualquer solo porque este é um processo que ocorre naturalmente, simplesmente vamos acelerá-lo”, acrescentou.
Em outubro de 2017, vários municípios do distrito de Viseu foram afetados por incêndios que, além dos danos humanos e materiais, causaram um impacto profundo no património florestal e ambiental, provocando a degradação dos solos e tornando-os vulneráveis à erosão sobretudo por escorrências superficiais.
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