Trabalhadoras de limpeza dos hospitais de Almada (Setúbal), Coimbra e Viseu manifestaram-se ontem em Lisboa contra o corte no subsídio de alimentação, acusando a empresa Talenter de não estar a cumprir com os direitos do trabalho.
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas (STAD), Vivalda Silva, explicou que o corte no subsídio resulta de uma negociação entre o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) e a Talenter.
“Com esta redução, há trabalhadoras que recebem menos do que no ano passado. […] São valores para salários pequenos, estamos a falar de um salário de 678 euros, com um corte de 50 cêntimos por dia no subsídio de alimentação, são 11 euros por mês, que é muito dinheiro para as trabalhadoras”, sustentou Vivalda Silva.
A coordenadora do STAD falava durante uma concentração de cerca de 120 trabalhadoras da limpeza industrial junto ao Ministério da Saúde.
De acordo com a responsável sindical, ficou definido em ata que os trabalhadores não iriam ter cortes em 2021, criticando a Talenter por não estar a pagar o subsídio de alimentação na totalidade.
“[A Talenter] diz que está a cumprir o contrato coletivo de trabalho, porque o contrato coletivo de trabalho diz e está expresso no contrato que é pago proporcional ao horário, é isso que eles estão a fazer. A questão é que durante muitos anos o SUCH sempre pagou o subsídio de alimentação de tempo inteiro como se fizessem oito horas às trabalhadoras que fazem 5/6/7 horas e sempre pagou os dias todos”, observou.
Reivindicando um “direito adquirido pelas trabalhadoras”, Vivalda Silva disse ainda que houve duas reuniões com a Talenter, em que a empresa não mudou a posição, mantendo o montante de três euros diários.
Também Carlos Trindade, da mesa da Assembleia Geral do STAD, adiantou que o sindicato tentou resolver a situação nos dois últimos meses, mas sem sucesso, acrescentando que enviou cinco ofícios para o Ministério da Saúde que ainda aguardam resposta.
“O SUCH fez uma subempreitada à empresa Talenter, esta empresa a partir de fevereiro/março começou a retirar direitos aos trabalhadores: reduziu o subsídio de alimentação de 3,50 para três euros, reduziu o trabalho em tempo extraordinário nos feriados, em vez de pagar em 200%, como sempre foi, pagou a 100% e está, inclusive, a contratar trabalhadores só para trabalhar no fim de semana e nos feriados”, apontou.
Segundo Carlos Trindade, estão em causa cerca de 500 trabalhadores dos hospitais de Almada (Garcia de Orta), Coimbra (Universidade, Covões, Pediátrico, Maternidade Daniel de Matos e Instituto Maternal Bissaya Barreto) e Viseu (Centro Hospitalar de Viseu/Tondela).
Já Madalena Machado, que trabalha no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), alertou que as trabalhadoras de limpeza também estiveram na linha da frente, durante a pandemia de covid-19, e exigiu respeito.
“[O SUCH] subcontratou outra empresa – que é a Talenter – e em vez de nos pagar 3,50 euros começa-nos a pagar 43 cêntimos à hora. […] Paga-nos consoante as horas que a gente trabalha e não é isso que a gente quer. Não é isso que a gente recebia”, exclamou.
A também dirigente sindical ressalvou que os trabalhadores querem negociar com a Talenter, assegurando que luta só terminará quando houver uma resposta positiva por parte dos patrões.
“Estamos a pedir o que gente tinha, não estamos a pedir nada mais, se deram o que gente tinha, a gente para luta, se não derem, todos os meses vamos ter uma luta”, frisou.
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