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Teatro culinário estreia-se em Penalva do Castelo na Casa da Ínsua

“O presente de César, quem vai para o mar não volta à terra” é o nome do espetáculo de teatro culinário que se estreia esta sexta-feira na Casa da Ínsua, em Penalva do Castelo, seguindo depois para outros espaços históricos dos concelhos de Aguiar da Beira, Castro Daire, Mangualde, Viseu, Nelas, Tondela, Sátão e Santa Comba Dão.

De sexta-feira a domingo, uma sala da Casa da Ínsua será transformada num navio no meio do Atlântico Norte. Nela, 60 espetadores poderão degustar uma ementa composta por entrada, sopa, prato e sobremesa, acompanhada por vinho do Dão, enquanto vivem as aventuras da pesca do bacalhau, o mais português dos peixes, mas que “fala” norueguês, no meio do nevoeiro e da tempestade.

O encenador Giacomo Scalisi explicou aos jornalistas que “O presente de César” se baseia numa história “muito pouco contada”, vivida no tempo do Estado Novo, pelas pessoas da região.

Esta é, segundo o encenador, a história de quem não teve possibilidade de escolher a sua vida, “pessoas que foram longe para pescar um peixe que é o orgulho português”, trabalhando e vivendo “com condições muito difíceis” e deixando em terra as suas famílias, com os seus dramas.

“Muitas pessoas foram obrigadas a ir para o mar por questões de dinheiro, porque não podiam escolher uma outra vida”, frisou.

Tal como aconteceu a César Tróia, que dá o título ao espetáculo e que embarcou, em 1966, na Frota Branca de bacalhoeiros portugueses, a muitos portugueses foi perguntado se queriam “ir para o mar ou para a guerra (do Ultramar)”, refere o texto original de Sandro William Junqueira.

“O Sandro escreveu muito bem esta história, tentando mesmo por em evidência o drama que estas pessoas viveram”, frisou Giacomo Scalisi.

O subtítulo “quem vai para o mar não volta à terra” representa o estado de espírito com que os portugueses regressavam, apanhando mulheres e filhos de surpresa.

“As pessoas voltaram e depois, quando aqui estavam, a única coisa que queriam era voltar para o mar. Muitas pessoas não conseguiram viver na terra, porque ou suicidaram-se ou decidiram não continuar a viver”, contou.

Para execução da ementa, foram usados produtos endógenos e também os atores – Graeme Pulleyn, Gabriel Gomes e Sofia Moura são da região.

Graeme Pulleyn, que ora é o chef do restaurante, ora o capitão da embarcação, disse aos jornalistas que esta foi “uma forma de reconhecer o sacrifício feito” por estes heróis que foram para o mar no tempo do Estado Novo.

“Sofreram tanto, que para nós é quase inimaginável o grau de sofrimento físico, emocional, mental daqueles homens e também das mulheres e das famílias que deixaram em terra”, sublinhou, admitindo que agora, quando se senta à mesa em frente a uma posta de bacalhau, vê além do que está no prato.

Cozinheira profissional há três anos, Rosário Pinheiro foi desafiada a embarcar nesta aventura, confecionando os pratos que se vão encaixando no texto de Sandro William Junqueira e tendo o bacalhau como elo de ligação entre a realidade e a ficção.

“É uma responsabilidade grande, porque não é só servir um prato, mas é acompanhar o tempo dos atores e seguir as deixas. Portanto, é mais delicado e mais silencioso do que normalmente seria na cozinha”, contou.

Fazer uma sobremesa com bacalhau não foi tarefa fácil, até porque o que encontrou mais parecido na sua pesquisa foi um chutney de bacalhau, uma receita de Macau.

“Propus-me o desafio de criar uma sobremesa com peixe, que não é muito usual, mas que é uma experiência diferente. É também um desafio para o público”, afirmou.

“O presente de César quem vai para o mar não volta à terra” é um projeto do Teatro Viriato para a Rede Cultural Viseu Dão Lafões. Até 07 de abril, circulará pelos nove municípios da Comunidade Intermunicipal com o mesmo nome.

 

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