Sem festivais e festas que habitualmente preenchem os fins de semana de verão, membros de ranchos folclóricos de Viseu vivem afastados da sua “segunda família” e estão impedidos de divulgar os usos e costumes da região devido à covid-19.
Seguindo as orientações da Direção-geral da Saúde e da Federação do Folclore Português, os ranchos do Caçador, de Mundão e de Torredeita estão parados até ao final de setembro.
“Parámos a atividade em meados de março. Já tínhamos tudo organizado para este ano, quer ao nível do nosso festival, quer de permutas com os outros grupos. Vimo-nos forçados a cancelar o festival, que ia ser em 27 de junho”, contou à agência Lusa a vice-presidente do Rancho Folclórico do Caçador, Teresa Almeida.
Todos reconhecem que “em primeiro lugar está a saúde das pessoas”, até porque, dos 55 elementos, um grande número pertence aos grupos de risco.
“Mas falta-nos o convívio com esta que é a nossa segunda família. Agora no verão era assim: na sexta os ensaios, no sábado os festivais e, às vezes, ao domingo ainda havia atuação”, contou.
Sobretudo a partir de maio, começavam os tempos de agitação para o Rancho Folclórico do Caçador. Seriam cerca de 20 atuações durante o verão.
“A nossa principal atividade é mostrar a nossa cultura essencialmente através das danças e dos cantares. Mas dançar não se coaduna com o distanciamento social”, frisou.
Situação idêntica vive-se no Rancho Folclórico de Mundão, que deixou de fazer ensaios em março e cancelou o seu festival, que estava marcado para 18 de julho.
Segundo Liliana Tavares, o Rancho Folclórico de Mundão tem 47 pessoas de várias faixas etárias, algumas das quais pertencentes a grupos de risco.
“Nem sequer é comportável essas pessoas todas entrarem dentro de um autocarro”, realçou.
Num verão normal, o Rancho Folclórico de Mundão participa em cerca de 25 atuações. Há um ano, por esta altura, o grupo estava a ir para a Bélgica, uma recordação que provoca saudade a Liliana Tavares.
“Vamos aguardar até setembro, serenamente, que é para ver se conseguimos, pelo menos, organizar o encontro de cantares de Janeiras e de Reis mais para o final do ano, início do próximo”, afirmou.
Entretanto, o grupo recebeu um convite para se deslocar à ilha da Madeira de 27 de junho a 01 de julho de 2021.
“É um convite muito bom, mas será que poderemos ir? Somos um grupo que envolve muitas pessoas e, portanto, fica sempre esta dúvida no ar”, admitiu.
O Rancho de Torredeita teve de cancelar o seu festival, que teria sido no final de maio, e não poderá ir a França, a um festival de folclore, como tinha previsto, disse à Lusa o seu presidente, Lino Pereira.
“Parámos toda a atividade. Só tem havido algumas reuniões da direção e, mesmo assim, à distância”, contou.
Sem ensaios, nem atuações, este rancho folclórico está a empenhar os seus esforços na reconstrução de um lagar de azeite, “que também teve de parar durante dois meses e meio”.
“Estamos focados em terminar a reconstrução do lagar e depois, a partir de setembro/outubro, vamos tentar organizar algumas atividades para angariarmos fundos para o funcionamento do grupo, porque temos despesas da nossa sede social, de água e eletricidade”, referiu.
Também o Rancho Folclórico do Caçador está empenhado em manter o ânimo dos seus elementos e, por isso, pediu a todos que gravem um pequeno vídeo a dançar, para colocar na sua página da Internet e no Facebook no dia em que se realizaria o seu festival.
“A malta ficou toda contente pelo simples facto de ir vestir o traje. Queremos deixar um marco naquele dia”, explicou Teresa Almeida, acrescentando que ainda se mantém a esperança de “realizar um minifestival” em dezembro, para assinalar o aniversário do grupo.
O Rancho Folclórico de Mundão já participou entretanto num festival digital na TV Esposende.
“Se calhar, durante o verão, vão acontecer muitos festivais de folclore digitais. Não é a mesma coisa, mas serve para continuarmos com alguma atividade”, frisou Liliana Tavares.
O folclore foi uma grande aposta do município de Viseu no ano de 2018. Em finais de julho, a cidade recebeu o festival Europeade, acolhendo grupos de 24 países europeus.
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