Três animais na Serra do Montemuro receberam hoje uma coleira com GPS e sensores para se poder estudar a vegetação consumida e ajudar a tomada de decisão na hora da queima do combustível, disse hoje à agência Lusa um responsável pelo projeto.
“Se conseguirmos saber a quantidade de vegetação que os animais comem durante um ciclo de crescimento, vamos perceber onde é que ela cresce mais e menos e, com isso, perceber onde é que não temos tanta necessidade de trabalhar os territórios, seja com fogo ou máquinas”, explicou o coordenador regional da zona norte da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF).
Manuel Rainha disse à agência Lusa que a conclusão deste estudo vai “permitir baixar os custos da gestão destes territórios”, neste caso da Serra do Montemuro, e vai “ajudar a melhorar na hora de decidir onde é que são realizados os fogos controlados para diminuir o combustível dos fogos” rurais.
“Há uma série de informação a que teremos acesso e que nos permite melhor decidir na gestão do território, quer na área dos fogos rurais, quer com os criadores de gado como, por exemplo, da raça Arouquesa, que anda de forma extensiva e livre na Serra do Montemuro, entre Cinfães e Castro Daire”, a norte do distrito de Viseu, explicou.
Este responsável da AGIF, que tem no Instituto Politécnico de Bragança e nos Bombeiros Voluntários de Castro Daire os parceiros desta empreitada, disse que assim se pode “apoiar a decisão, de reduzir o perigo e ajudar os pastores”.
“Que saiba, é um projeto pioneiro no país. Fazemos um casamento entre necessidades. A nossa de gerir a vegetação, ou seja, o combustível do território para reduzir o perigo de incêndio e, em simultâneo, a dos animais ao perceber as suas preferências”, resumiu.
Para fazer este estudo, foram hoje colocadas “três coleiras com GPS e uma outra tecnologia de recolha de imagem, através de sensores de alta precisão, que vão ajudar a calcular a vegetação consumida nos locais por onde os rebanhos passam”.
Cada um destes três animais pertence a um rebanho, uma vez que “há estudos que indicam que basta estar um animal sinalizado para ter referências de um grupo”.
O animal “tem uma coleira que disponibiliza informação a cada 15 minutos.
“Até setembro tencionamos ter informação suficiente que vai permitir decidir da melhor forma onde é que faremos o fogo controlado para queimar o combustível em outubro, depois das primeiras chuvas”, acrescentou.
Este projeto insere-se num “outro maior que se tem desenvolvido nos últimos dois anos” e que passa pela “gestação da vegetação neste grande território, onde é usado o fogo controlado para queimar este combustível, isto de forma articulada com os pastores”.
“Porque queremos reduzir a quantidade de combustível para que o fogo seja menos intenso e mais controlável. E também para que os criadores de gado aproveitem para colocar os animais a pastar nestes sítios, porque a vegetação rebenta muito bem e os animais tendem a escolher estas áreas tratadas com o fogo e, por isso, surgiu esta necessidade de saber mais para decidirmos melhor”, explicou.
A implementação deste “dispositivo experimental de localização dos percursos dos rebanhos de ovinos e caprinos na serra é do Instituto Politécnico de Bragança, que “já tem anos de trabalho com os pastores para perceber a evolução do pastoreio no ecossistema”, explicou o professor José Castro, do Departamento de Ambiente e Recursos Naturais.
“O nosso objetivo é calibrar os dados desses registos de GPS com os serviços que prestam esses rebanhos em termos de alteração da biomassa, nomeadamente da arbustiva. Um dia que tenhamos dominada esta relação, creio que estão criadas condições para os pastores serem remunerados por esses serviços ecossistémicos que prestam a toda a sociedade”, defendeu José Castro.
Para isso, explicou, o projeto foi submetido a uma candidatura para ser financiado, apesar de já estar a ser implementado, “porque a instituição tem essa possibilidade e porque o caminho passa por aqui e, mais tarde ou mais cedo, isso vai ser reconhecido”.
Comente este artigo