Eduardo Botto, natural de São João da Pesqueira, é considerado o herói do IP3. Enfrentou uma estrada em chamas quando todos lhe diziam ser impossível. Impossível não foi porque essa decisão, tomada em segundos, acabou por salvar um autocarro da Transdev onde seguiam 48 pessoas.
Visivelmente abalado… cansado e ainda a digerir tudo o que aconteceu, Eduardo Botto, confessou à Rádio AliveFm que não se sentia capaz de voltar a contar a história pelas próprias palavras e gravar o discurso.
Com 49 anos, e infindáveis viagens feitas ao volante de autocarros, garantiu nunca se estar preparado para um cenário devastador como aquele que lá se viveu.
Os incêndios que abalaram a zona centro do país acabaram também por surpreender, de repente e sem escapatória, o autocarro que saiu de Viseu às 18h00 em direcção a Coimbra. Rodeado de chamas e de caos, quase colidiu contra uma viatura de bombeiros. Nessa altura foi aconselhado a inverter a marcha porque pela frente o cenário declarava fogo activo. Ainda assim, decidiu avançar. Voltar para trás, em contramão e com a aflição vivida pelos condutores, gerava ainda mais perigo. Com a ajuda dos Bombeiros entrou num verdadeiro túnel de fogo.
Os vidros do autocarro expostos ao calor das chamas ferviam, o ar tornava-se cada vez mais difícil de se conseguir respirar, e o panorama estava envolto de gritos, chamadas em jeito de despedida e orações. No meio do desespero, Eduardo tentou acalmar os passageiros com uma frase que hoje percorre as redes sociais “Posso morrer aqui convosco, mas não vos abandono”.
Pelo caminho, com o IP3 cercado pelo incêndio, o inevitável aconteceu. As chamas acabaram por atingir a parte traseira do autocarro e nesse momento, a pedido de Eduardo, os passageiros tiveram de fugir a pé. O motorista foi o último a abandonar “o barco”. Depois dos bombeiros terem conseguido extinguir as chamas, Eduardo meteu-se novamente na estrada com o Transdev e foi colhendo os passageiros que se tinham metido a caminho IP3 fora.
Mais à frente, na Ponta da Aguieira, um novo susto. Contudo, o fogo mudou de direcção deixando de se apresentar como uma ameaça.
Sem vítimas a registar, chegados a Coimbra, os passageiros (maioritariamente estudantes) aplaudiram e agradeceram o acto de coragem de Eduardo Botto a tomar a decisão certa e a quem tinham confiado a própria vida.
Eduardo, que recusa qualquer título heroico, confessou-nos que ainda hoje não sabe onde foi buscar tamanha coragem. O certo é que pelas redes sociais os passageiros assim o consideram.
Peça de Maria Sousa/AliveFm.
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