O musical ‘Into the Woods’ junta em palco 17 atores num espetáculo que conta com várias personagens dos contos dos irmãos Grimm e se estreia em Carregal do Sal em dezembro, pela Contracanto Associação cultural, disseram os responsáveis.
É um musical muito ‘sui generis’ que tem uma partitura particularmente genial, de Stephen Sondheim, e tem a curiosidade de reunir em palco algumas das personagens mais conhecidas dos contos dos irmãos Grimm que se cruzam numa mesma história”, explicou a responsável pela adaptação.
Sandra Leal disse que é “uma história que tem o intuito de fazer pensar as pessoas sobre o que realmente desejam e até que ponto é que o final ‘felizes para sempre’ é ou não questionado, quando concretizado e conquistado”.
“Faz-nos pensar na nossa própria condição de eternamente insatisfeitos com o que temos, mesmo quando alcançamos alguns dos nossos objetivos. A nossa frase temática é mesmo: cuidado com aquilo que desejas, porque, às vezes, aquilo que desejas não é aquilo que tu queres”, apontou.
Os musicais da Contracanto “têm sempre uma mensagem que obrigue a pensar e a questionar as coisas, que obrigue o cérebro a funcionar, porque a arte também é para isso”, sublinhou Sandra Leal.
“A ironia por trás de todo este enredo é muito rica”, destacou Sandra Leal que deu como exemplo o estatuto da mulher, uma das questões abordadas nesta peça onde “todas elas são de força e dominadoras, em vez de estarem no estatuto que as histórias de encantar transmitem, a do papel submisso, de estética e contemplação”.
São também “ascendentes sobre os homens”, acrescentou, tal como a personagem do Capuchinho Vermelho, “que não é infantil, não tem traços infantis e também é dominador”.
O espetáculo tem, “na primeira parte, um imaginário juvenil e infantil até, mas depois tem um segundo ato francamente adulto, com muitos traços de comédia negra” em que “o bosque é o cenário principal, já que tudo se passa lá”.
“O bosque é o contexto e o local que espoleta toda a trama e todo o desenrolar das ações e do cruzamento das personagens e tem piada, porque todos sabem quem é a Capuchinho Vermelho, a Cinderela e os príncipes, a bruxa e o João Pé de Feijão, mas ninguém está à espera de os ver cruzar numa mesma história com desejos diferentes por concretizar”, disse.
O encenador da peça, António Leal, presidente da Contracanto, que é também escola de música, dança e teatro, disse que este musical conta com uma equipa que “ronda as 35 pessoas” e, em palco, estarão 17 atores profissionais, dos quais três são antigos alunos.
O espetáculo estreia-se em 01 de dezembro, no Centro Cultural de Carregal do Sal, à semelhança de outras produções da Contracanto, que tem sede na Lapa do Lobo, concelho de Nelas, que, no seu entender, “não tem um auditório com condições para receber um musical”.
A peça estava programada para estrear em dezembro do ano passado, mas “a câmara, em meados de novembro, decidiu que não ia disponibilizar o acesso ao centro cultural e que se manteria fechado”, obrigando ao adiamento, inicialmente para março deste ano.
“Tivemos que pedir duas vezes o adiamento dos direitos autorais e tivemos inclusive de mudar o elenco, porque três dos atores não podiam nas datas previstas. Acabámos por não estrear em março e vamos agora fazê-lo”, contou Sandra Leal, que fez a “primeira adaptação do espetáculo para português”.
Sandra Leal e António Leal contaram que “Into the Woods” tem “um orçamento de 60 mil euros e não tem qualquer tipo de apoio, porque a Contracanto também não tem, e por isso terá de se pagar por ele próprio, só com as receitas da bilheteira”.
Com espetáculos diários agendados entre 01 e 12 de dezembro, com exceção para 06 e 09, estes responsáveis admitem que “será muito difícil conseguir pagar só com bilheteira, porque a abrangência do público não é igual à de outras cidades”.
“Vai ser o nosso grande teste depois da pandemia”, reconheceu António Leal, que adiantou que ‘Into the Woods’ estará, no início de 2022, “a convite da [promotora] UAU, no Auditório dos Oceanos, no Casino de Lisboa, o que poderá ser uma espécie de balão de oxigénio” para a Contracanto.
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