Numa nota enviada à agência Lusa, o presidente do município, Leonel Gouveia, reitera que nunca teve intenção de construir um Museu Salazar, mas sim um Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN), no qual não será incluído espólio pessoal do ditador.
“É nosso objetivo que o CIEN seja um equipamento obrigatório para a visita de escolas, que sirva de local de estudo para estudantes universitários, que receba investigadores e historiadores, que seja um espaço de celebração da democracia”, frisa.
Segundo o autarca socialista, “o equipamento constituir-se-á como um espaço de conhecimento, cultura, de educação e história, que dará a conhecer uma época e a sua contextualização”, ficando a salvaguarda da integridade do projeto assegurada por uma comissão de acompanhamento, constituída “por representantes do concelho e historiadores, que não deixarão adulterar os conteúdos a apresentar”.
Leonel Gouveia considera que o município já apresentou provas de que “o CIEN é um projeto sem mestres, nem ideologias”, sendo que, no entanto, “para muitos, não há rigor científico que o salve de se tornar um foco de infeção de ideais antidemocráticos, precisamente porque vai ser construído na terra natal de Oliveira Salazar”.
Aludindo àqueles que têm criticado o projeto, insistindo em chamá-lo de Museu Salazar, o autarca entende que estão a ofender o concelho, porque “reiteram o estigma que perdurou e ainda perdura na sociedade portuguesa: o de uma Santa Comba Dão fascista, aduladora de Salazar, de um ‘foco de infeção’ de ideais antidemocráticos”.
“Insinuar que a construção de um Centro Interpretativo do Estado Novo em Santa Comba Dão poderá ser a semente que fará germinar e florescer movimentos fascistas, é gravíssimo e de uma irresponsabilidade gritante”, sublinha.
Leonel Gouveia explica que, com a criação do CIEN, o município pretende promover o território, através da captação de fluxos turísticos associados ao turismo cultural e do conhecimento.
“Santa Comba Dão precisa deste e de outros projetos âncora para alicerçar a sua economia. No entanto, não é facto de o CIEN estar também associado a objetivos turísticos que vai desvirtuar o projeto que pretendemos implementar”, realça, lembrando as dificuldades que sentem os municípios do interior do país para se afirmarem.
Em 11 de setembro, o parlamento condenou a criação de um museu dedicado a Salazar na terra natal do ditador, aprovando um voto do PCP por considerar ser uma “afronta à democracia”.
Na hora da votação, PSD e CDS abstiveram-se, mas a maioria de esquerda – PS, BE, PCP e PEV – aprovou o voto apresentado pelos comunistas à comissão permanente da Assembleia da República (órgão que substitui o plenário do parlamento durante as férias).
Segundo Leonel Gouveia, tratou-se de “um voto inútil”, porque “votou-se o que nunca existiu”.
“Se fiquei desiludido com o meu partido? Fiquei e já tive ocasião de o manifestar em sede própria, tanto mais que foi enviada ao parlamento informação enquadradora e detalhada sobre os objetivos do projeto, não do Museu Salazar (que nunca existiu!), mas do CIEN”, sublinha.
O autarca lembrou que, como já foi anunciado, o CIEN “vai integrar uma Rede de Centros de Interpretação e Memória Política da I República e do Estado Novo, promovida pela ADICES – Associação de Desenvolvimento Local, em parceria com as autarquias de Carregal do Sal, Penacova, Santa Comba Dão, Seia e Tondela”. Esta rede conta com consultoria científica, técnica e deontológica do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra.
Segundo Leonel Gouveia, a requalificação da Escola Cantina Salazar arrancou recentemente, mas, neste momento, as obras encontram-se suspensas, devido a um “pequeno problema técnico” que está a ser analisado.
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