Uma tenente dos Bombeiros Voluntários de Fully, na Suíça francesa, criou um intercâmbio entre a corporação suíça e a de Moimenta da Beira, iniciativa com dois anos que visa a “troca de competências” na prevenção e combate aos incêndios.
Maria Antunes integrou o corpo dos voluntários de Fully há 12 anos com o objetivo de facilitar a sua integração na sociedade suíça, explicou à Lusa a tenente natural de uma pequena aldeia pertencente ao concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu.
“Apesar de ter vindo para a Suíça muito cedo, aos 10 anos, estive sempre muito ligada à comunidade portuguesa. Os bombeiros ajudaram-me a integrar-me na sociedade suíça”, afirmou Maria Antunes.
A bombeira de origem portuguesa reside na Suíça há 32 anos e descreve o desafio da experiência como bombeira voluntária na corporação de Fully com muito carinho.
“Gosto muito do espírito do bombeiro, nunca estamos sozinhos. Somos uma família”, declarou a tenente, salientando que “ser bombeira é estar sempre disponível para os outros e ter uma certa maturidade para encarar essa responsabilidade”.
A ideia de intercâmbio com os bombeiros portugueses surgiu num almoço de convívio após os exercícios de simulacros que os voluntários de Fully realizam a cada seis semanas.
“Sugeri a ideia visto que já era uma troca posta em prática com outros países, nomeadamente com a Bélgica. De seguida, contactei um comandante de Moimenta da Beira e pouco tempo mais tarde lá estávamos nós no terreno, em Portugal”, disse.
Este ano, à semelhança do que aconteceu em 2018, entre 06 e 15 de agosto, um grupo de cinco bombeiros suíços das corporações de Fully e 2Rives, da região do Valais, na Suíça francesa, viajaram rumo a Moimenta da Beira, no distrito de Viseu, para participar numa ação de troca de experiência e conhecimentos com o corpo de bombeiros voluntários português.
O grupo helvético, acompanhado pela impulsionadora da iniciativa, Maria Antunes, cooperou em todas as atividades com os pares de Moimenta da Beira, inclusivamente nos incêndios que ocorreram, há dias, no concelho de Sernancelhe.
“Foi uma experiência muito enriquecedora do ponto de vista humano. Aprendemos muitas técnicas de trabalho com os nossos colegas de profissão portugueses, no que toca aos incêndios florestais”, afirmou Cédric Vocat.
Este bombeiro voluntário da corporação de 2Rives tirou uma semana de férias para viver pela primeira vez a experiência junto dos colegas de profissão de Moimenta da Beira.
“Este ano, foi a minha primeira experiência em Portugal, fiquei surpreendido com o povo português, que é bem diferente do que vive na Suíça. Os portugueses em Portugal têm o coração na mão”, explicou Cédric Vocat realçando que ficou agradavelmente surpreendido pela forma como os bombeiros são vistos pela população.
“Os portugueses vêm os bombeiros com muito respeito, como verdadeiros heróis. Isto na Suíça não acontece”, concluiu.
Maria Antunes também deixou transparecer a satisfação e orgulho: “Lembro-me de estar em pleno combate às chamas e de nos levarem lá água. De ir tomar um café, ir para pagar e a conta já estar paga. Os portugueses reconhecem e valorizam muito o trabalho de um bombeiro”, notou.
Sobre os recursos financeiros, materiais e humanos dos bombeiros portugueses, os colegas suíços consideraram que em Portugal, “com pouco se faz muito”, tendo em conta o trabalho que desempenham e os recursos de que dispõem.
A tenente portuguesa confessou que o próximo encontro terá lugar na Suíça, em Fully, na última semana de fevereiro de 2021.
“Nestes dois anos, os bombeiros suíços têm aprendido com os colegas portugueses como agir em situações de emergência em fogos florestais e os bombeiros portugueses irão aprender como atuar em caso de fogos urbanos, menos recorrentes em Portugal”, declarou.
Segundo Maria Antunes, os campos de ação em Portugal e na Suíça são bem distintos. Enquanto na Suíça o papel do bombeiro resume-se ao controlo e segurança de eventos e manifestações, e alguns casos de incêndios urbanos, em Portugal o bombeiro é solicitado “por tudo e por nada”.
“Em Portugal pedimos muito aos nossos bombeiros para a formação que lhes dão”, concluiu a tenente dos voluntários de Fully.
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