O vice-presidente da Câmara de Tondela disse à agência Lusa que já se iniciou o processo de candidatura à inscrição da louça preta de Molelos no inventário nacional da cultura imaterial, iniciativa que pretende finalizar em dezembro.
“O barro preto, enquanto produto, está certificado. O que queremos preservar é a sua identidade e, daí, arrancarmos com este processo, porque queremos a sua inserção no inventário nacional do património imaterial”, assumiu João Figueiredo.
O vice-presidente adiantou que o processo “começou agora e que o objetivo é ter a candidatura feita até final deste ano, para a entregar em janeiro” de 2023, tendo em conta que “demora sensivelmente seis meses” a preparar.
João Figueiredo, também responsável pela área da Cultura, justificou a iniciativa na sequência da matriz identitária da louça preta de Molelos na região e tendo em conta as tradições a ela associadas.
E objetivo é o de “precisamente preservar essa identidade da arte ancestral e todo o seu saber-fazer associado”, como é o caso da Soenga, que é a cozedura tradicional, como se fazia originalmente, debaixo da terra”.
“A importância deste processo tem a ver com a relevância que damos ao papel identitário das nossas tradições e, sobretudo, ao papel e ao valor que queremos dar ao nosso património que nos torna únicos, sendo que os oleiros de Molelos são, neste momento, a maior comunidade de louça preta do país”, destacou.
Por isso, a autarquia quer “não só preservar, mas também fazer o levantamento, transmitir conhecimentos e preservar e daí fazer isto de forma metódica.
A ideia é a de estar em linha com as orientações da UNESCO e da Direção Geral do Património.
“A sua inclusão no inventário nacional do património imaterial tem a ver com esta vontade de preservar e de inscrever, enquanto bem imaterial, para as gerações vindouras e, por isso, é que já estamos no terreno, quer a fazer registo, com filmagens, de recolhas de testemunhos, de documentos e estudos”, sublinhou.
Esta candidatura terá uma “comissão científica de apoio, inclusive, com personalidades internacionais, de reconhecido trabalho nesta área”.
“A candidatura contempla a questão da olaria e dos artefactos, quer da forma de fazer, da identidade dos produtos, da especificidade da louça preta de Molelos, ao mesmo tempo que será elaborado um programa de salvaguarda a 10 anos”, avançou.
No seu entender, uma década é o tempo que “permite traçar o caminho para a sua preservação e também a sua inovação”, num trabalho que tem as “vertentes de salvaguarda e de preservação”.
“Não escondemos também o nosso interesse em que Molelos passe a liderar um projeto internacional, nomeadamente com Itália e Espanha, já que fazemos parte da Associação de Cidades e Vilas Cerâmicas e sermos nós a liderar o processo no sentido da sua preservação, mas também do intercâmbio com comunidades internacionais com vista ao seu engrandecimento e à sua divulgação”, assumiu.
Um projeto que o vice-presidente não quis revelar, porque “agora é importante a valorização nacional”.
Indicou, contudo, que Espanha e Itália “têm as comunidades mais ativas nesta área da louça preta e há uma vontade legítima de acompanhar a vitalidade deste setor” nestes países.
Em causa, está também a continuidade da produção da louça preta e esta “é uma preocupação bem presente” na autarquia.
Por isso, o plano a 10 anos também inclui “uma forma de continuar esta arte ancestral” em Molelos.
“Já percebemos que, do ponto de vista económico, tem vantagens acrescidas, porque, neste momento, temos sete oleiros a trabalhar a 100% nisto, o que quer dizer que é rentável e, sobretudo, é atrativa, e queremos manter essa atividade nesse pendor”, assumiu.
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