Os deputados do PS eleitos por Viseu no Parlamento lamentam a degradação da Central Hidroelétrica dos Pisões, construída em 1925, em Nandufe, no concelho de Tondela, e defendem que aquele património deve ser transformado num “museu vivo da história da eletricidade”.
“Este imóvel, assim como todo o espólio que dele faz parte, podem ser considerados de interesse público, dado o seu valor histórico, ligado diretamente à eletrificação e consequente industrialização do concelho de Tondela”, referem os deputados José Rui Cruz e Lúcia Araújo Silva numa pergunta feita ao Ministério do Ambiente.
Na opinião dos parlamentares, atendendo à “importância da produção das mini-hídricas para a sustentabilidade ambiental, este projeto poderá ser um fator de sustentabilidade local e, ao mesmo tempo, um museu vivo da história da eletricidade em Portugal” e especificamente nesta região de baixa densidade.
Os deputados realçam que o conjunto arquitetónico faz parte da história de Nandufe, que “foi das primeiras aldeias da região a ter energia elétrica” e, neste âmbito, defendem “a sua conservação e manutenção e eventual transformação num local de visita turística na bacia hidrográfica do rio Dinha”.
Numa visita feita recentemente ao local, os deputados “depararam-se com a destruição completa do caminho de acesso e com um portão de vedação das propriedades contíguas pertencentes ao senhor Arménio Leite Marques”.
Depois de o proprietário ter aberto o portão, o sentimento foi de desolação, acrescentam, aludindo à “movimentação de terras que deixou o canal de água suspenso”, à destruição das poldras do rio e a um “silvado de grandes proporções junto às janelas”.
O vereador da Câmara de Tondela, Miguel Torres, disse à agência Lusa que “desde que foi tornado público que a central iria deixar de funcionar, o município manifestou de imediato à EDP a sua predisposição para acolher o edifício para aí poder desenvolver um eventual polo museológico do Museu Terras de Besteiros”.
Nesse âmbito, enviou “vários e-mails para a EDP, entre 2013 e 2015”, mas não obteve resposta.“No início de 2016, a EDP informou o município de que a sua concessão do espaço havia terminado, pelo que qualquer assunto sobre eventuais cedências teriam que ser tratadas com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”, contou Miguel Torres.
Nessa altura, o município enviou à APA um e-mail “com o mesmo teor, fazendo a mesma proposta e sugerindo a realização de uma reunião”, mas também não recebeu resposta. Miguel Torres garantiu que “não é por falta de vontade do município de Tondela que o imóvel se degrada, mas sim porque as entidades responsáveis pela gestão de um imóvel que é da administração central nunca responderam às propostas que lhes foram feitas”.
Questionado sobre o facto de o caminho ter sido vedado, o vereador contou que a Junta de Freguesia de Nandufe (antes da agregação com a Junta de Freguesia de Tondela) questionou o município sobre esse facto, o que levou à abertura de um processo na fiscalização municipal e ao pedido de um parecer a um gabinete de advogados.
O parecer referiu que a central é “um prédio encravado, que beneficia de uma servidão particular de passagem (contrato de 1931)” e que esta é “uma situação regida pelo direito privado, a que o município de Tondela e o direito administrativo são alheios”, pelo que o processo foi arquivado.
O presidente da Junta de Freguesia Tondela/Nandufe, Francisco Coutinho, disse à Lusa que o parecer não é isento, porque quem o assina “é advogado da Câmara e advogado da pessoa que pôs o portão a fechar o caminho”.“Não estou contra o proprietário do terreno, estou é a favor de arranjar uma solução para o património que lá está dentro”, frisou, considerando que a Câmara de Tondela poderia comprar o edifício e inseri-lo no Museu Terras de Besteiros.
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