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Ansiedade e sorrisos no regresso aos relvados dos Cracks de Lamego

A ansiedade “era muita nos últimos dias”, mas desfez-se no primeiro dia de treinos de futebol nos relvados do Estádio Municipal dos Remédios, que abriu as portas na segunda-feira para receber a formação dos Cracks de Lamego. À chegada do Estádio Municipal Nossa Senhora dos Remédios, a ansiedade era generalizada e vinha com as crianças, com os pais e com a equipa técnica e dirigentes, mas também vinham também pulos, agitação e sorrisos que as máscaras tapavam, mas os olhares não disfarçavam.

“Eu queria muito regressar e estava ansioso desde que começou o dia. Ao final do dia estava ansioso, porque ia começar”, contou João Miguel Graça, de oito anos. Com mais à vontade em campo, com a bola, do que com as palavras, nenhum miúdo escondeu a alegria do regresso aos treinos presenciais.

Enquanto faziam fila para medir a temperatura já a discussão do campeonato da I Liga de futebol estava acesa entre os miúdos do escalão sub-10 B de futebol do Cracks Clube de Lamego a que a agência Lusa assistiu no estádio municipal que faz paredes meias com o Santuário da Nossa Senhora dos Remédios.

“Ele estava ansioso de voltar aos treinos, apesar de haver atividades ‘online’, que os treinadores faziam sempre, para ele não era a mesma coisa, faltava-lhe o convívio dos colegas, o convívio com os treinadores”, adiantou a mãe de Eduardo Vilar, que, aos oito anos, joga nos Cracks de Lamego há dois.

Iolanda Vilar contou à agência Lusa que, juntamente com o pai de Eduardo, foram, “de vez em quando, dentro do possível, dar uns toques na bola” com o filho para lhe tirar o gosto. Um gosto que nem a má disposição do dia o arredou do regresso aos treinos presenciais.

“Ele hoje até estava um bocadinho meio mal disposto, que abusou no fim de semana, mas disse: não, quero ir aos treinos, apesar de tudo quero ir aos treinos, quero ver os meus colegas e quero ver o meu mister, portanto, estava bastante ansioso com esta ausência de treinos”, contou a mãe.

As regras do treino foram ditadas à entrada e reforçadas ao longo do mesmo, para que não caíssem no esquecimento. “Ninguém se pode afastar mais do que um metro do cone e ninguém toca na bola dos colegas, só na sua. É como se fosse uma bomba, não tocam”, gritava no campo o treinador.

José Pedro Fonseca não escondeu a alegria de voltar ao campo e, apesar de reconhecer que, “gostava de ter mais meninos”, apareceram oito dos 16 do escalão, disse compreender ser “natural alguns pais terem receios e dúvidas” no regresso aos treinos em campo.

Receios que espera desaparecidos nos próximos dias e com a testagem que vão começar a fazer aos atletas, uma vez que, para já, estão a treinar como modalidade de baixo risco, ou seja, não há contacto entre os atletas.

“Estamos a tentar arranjar as parcerias corretas, porque simplesmente não podemos comprar os testes e fazê-los, porque tem de ser alguém ligado à saúde e que tenha acesso ao ‘synlab’ que os possa submeter”, explicou o presidente do clube.

Marco Rodrigues esclareceu que os testes, mesmo que feitos pela médica do clube, “não podem ser submetidos na plataforma a que a médica tem acesso, tem de ser a dos laboratórios” para que fiquem os resultados todos registados, negativos e positivos, “como é obrigatório”.

Com as parcerias que “estão a ser trabalhadas” no clube, “em princípio, no sábado, já haverá testes” para serem feitos a todos os atletas e, a partir daí, “podem voltar a treinar sem restrições”, explicou o diretor da formação do clube.

“Em termos logísticos é complexo, não só juntar tantos miúdos, como ter os técnicos que vão fazer os testes todos os dias. E simultaneamente financeiro para o clube e para as famílias. O clube vai tentar pagar até onde puder e a outra parte vai ser custeada pelas famílias”, explicou Miguel Santos.

Com os campeonatos de futebol marcados para arrancarem a partir de 15 de maio, Miguel Santos admitiu à agência Lusa que “os escalões mais velhos são os mais penalizados” pela pandemia que se vive há um ano, mas que “já afetou duas épocas” de futebol.

“Muitos clubes já não vão abrir, porque não tiveram condições para suportar um ano sem receitas, depois a perda de recursos humanos (…) e a perda de inscrições de atletas, somos dos poucos que temos inscritos, apesar de não haver competição”, contou.

Miguel Santos acrescentou que, na ótica do atleta, “é como os miúdos na escola, ficam com um hiato de tempo em que as coisas não aconteceram quando tinham de acontecer e no futebol é a mesma coisa” e se nos mais pequenos “não é assim tão dramático” ao contrário dos sub-19.

“Muitos deles que aspiravam a uma carreira no futebol sénior estiveram estes dois anos sem competir. Por um lado, perderam interesse e capacidade tática, mas também perderam a visibilidade para os clubes os verem. Se não são vistos, não são chamados e isso pode ser dramático. Muitos não vão cumprir o sonho que tinham”, lamentou Miguel Santos.

 

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