Home / Notícias / Mães de Liliane e Luís Pinto contam o que viveram antes, durante e depois do crime

Mães de Liliane e Luís Pinto contam o que viveram antes, durante e depois do crime

O julgamento de Pedro Dias continua. Chegou ao Tribunal Judicial da Comarca de Guarda calmo, algemado, outra vez de fato cinzento e gravata e passou o tempo todo a tomar notas.

Esta manhã de terça-feira foram ouvidas as mães do casal (Liliane e Luís Pinto) que iam a caminho de Coimbra e acabaram por morrer. Maria de Fátima e de Virgínia Pinto, emocionadas no julgamento, recordaram a véspera do dia trágico e descreveram os filhos como “um casal feliz”. Maria de Fátima não se escusou a olhar fixamente para Pedro Dias quando entrou e saiu na sala de audiências. Virgínia Pinto… nem o viu. Ambas estiveram com o casal na noite que antecedeu o crime. Jantaram juntos. Partiam para Coimbra às 05h30, com 300 ou 500 euros para as consultas de fertilidade. Nesse dia, estranhadas pelo casal não atender aos pedidos de chamada, começaram a ficar alertadas. Maria de Fátima insistiu a telefonar a partir das 10h00 com o coração apertado. Sem sucesso. Pensou que pudessem ter tido um acidente. No final do dia acabou por receber a trágica notícia. Virgínia Pinto igual.

O Observador conta-lhe tudo:

«A mãe de Luís também estranhou não ter notícias do filho. Durante o dia, foi com a sobrinha até Trancoso e foi da parte da tarde que a sobrinha recebeu uma chamada do genro de Virgínia para regressarem a Aguiar da Beira o mais depressa possível. Pelas 18h30 soube da morte do filho.

Apesar de um dos seus filhos ter ido ver Liliane ao hospital nessa noite, Maria de Fátima só visitou a filha no dia seguinte. Seguiram-se depois quase seis meses de internamento no hospital, com os pais de Liliane sempre ao seu lado. “Ia lá todos os dias ver a minha filha, estive sempre ao lado dela, eu de um lado e o pai do outro. Penso que a minha filha ouvia tudo o que nós dizíamos. Estava em muito sofrimento e eu, ao lado dela, sem poder salvá-la.”

Maria de Fátima descreveu a filha e genro como um casal “feliz” e com uma ótima relação com os respetivos pais e sogros, acrescentando que as suas vidas pararam depois da morte dos filhos e que ambos os pais tomam calmantes todos os dias. Também Virgínia Pinto não poupou elogios ao filho e à nora: “Ele era o meu braço direito. [A Liliane] era uma filha, não era de sangue mas era de coração. Eu era feliz, agora já não sou.”».

Durante a tarde, foi ainda ouvido António Duarte:

«António Duarte, o morador de Moldes (concelho de Arouca) que foi alegadamente sequestrado por Pedro Dias; Ana Cristina Laurentino, ex-namorada do arguido, e Carlos Santos, o militar da GNR que abriu a porta ao também militar, António Ferreira, após alegadamente ter sido baleado por Pedro Dias. “Mantive a calma e ele também não me agrediu”. António Duarte começou a ser ouvido pelas 14h10, por videoconferência. O morador de Moldes descreveu o que aconteceu no dia 16 de outubro, durante o alegado sequestro de que foi alvo por parte de Pedro Dias. Começou por dizer que ouviu os gritos de Lídia da Conceição, que tinha ido a casa da mãe, quando estava a tratar de um jardim de um familiar perto da habitação. Chamou por ela e como esta não lhe respondia, dirigiu-se à casa para saber o que se passava. “Resolvi ir lá ver o que se passava, se precisava de ajuda. Puxei a porta da habitação e o senhor Pedro Dias abordou-me. Mantive a calma e ele também não me agrediu“, afirmou o homem, acrescentando que Pedro Dias lhe apontou uma arma mal entrou na casa.

António Duarte explicou ainda que tentou acalmar o arguido, ao explicar porque tinha lá ido. Foi depois encaminhado para um quarto, juntamente com Lídia Conceição, onde foram amarrados “com pedaços de tecido”. Referiu ainda que Lídia estava ferida, mas não soube esclarecer como tinham ocorrido esses ferimentos porque nunca assistiu a nenhuma agressão — especificou apenas que lhe pareceu ver “sangue na cabeça” e na cara. Aliás, durante todo o sequestro, o homem disse que mal falou com Lídia, acrescentado contudo que esta se queixava de dores de cabeça.

“A D. Lídia não se calava, estava muito nervosa e eu também a mandava calar e que fizesse o que o senhor Pedro Dias mandava. Como a Maria Lídia não se calava, [Pedro Dias] agarrou-lhe as mãos e pôs uma batata na boca”, contou António Duarte, adiantando que Pedro Dias a ameaçou com a arma, na tentativa de a calar. “Ela estava muito assustada. Eu estava com uns nervos que nem imagina.”

O arguido, de acordo com o morador de Moldes, também terá colocado uma batata na sua boca, o que lhe dificultou a respiração. “Pôs uma batata na boca, disse-me que a tinha lavado e tapou-me os olhos também“, afirmou, tal como já tinha feito a Lídia da Conceição.

Apesar de ter ouvido Pedro Dias a circular pela casa, não soube dizer o que ele estava a fazer. Pedro Dias ter-lhes-á depois dito para não se mexerem, que iria sair, mas regressaria nas quatro horas seguintes, referindo ainda que se saíssem e fossem falar com a polícia, os mataria.

Só cerca de duas horas depois de Pedro Dias ter saído, quando ouviu pessoas no exterior da casa, é que tentou pedir ajuda. “Estava com receio que ele voltasse. Só fui pedir socorro quando ouvi que estavam lá [fora] pessoas”. Nessa altura, o seu carro, que estava estacionado perto da casa, tinha desaparecido. “Só voltei a ver o carro quando fui às instalações da [Polícia] Judiciária.” Confrontado com imagens de objetos encontradas no interior do veículo, apenas reconheceu o seu telemóvel, um boné e um casaco impermeável.

António Duarte esclareceu ainda que, durante o incidente, Pedro Dias nunca referiu o que alegadamente se passou na madrugada do dia 11 de outubro, sublinhando contudo que o arguido tinha manchas de sangue nas calças.»

À entrada do Tribunal Virgínia Pinto e os advogados envolvidos falaram aos jornalistas:

Virgínia Pinto, mãe do Luís Pinto, abalada lembrou um vazia imenso com a perda do filho e garante que só deseja toda a felicidade do mundo a quem tem filhos.

João Paulo Matias, advogado de Liliane e Luís Pinto, espera que seja aplicado a Pedro Dias a pena máxima de 25 anos possível pelo sistema português.

Pedro Proença, advogado dos dois militares da GNR, acredita que o julgamento está a avançar bem. Até ao final de novembro o caso pode ficar concluído.

Mónica Quintela, advogada de Pedro Dias, sem adiantar quando e onde… garantiu que o arguido nalguma instância irá falar.

 

Pode ver também

Mangualde atinge o maior número de bolseiros do ensino superior e aumenta verba em 40%

O Município de Mangualde tem este ano letivo 53 bolseiros do ensino superior, o maior …

Comente este artigo