Das 127 casas do plano de requalificação na Urgeiriça, vão ser iniciadas agora as obras na 99ª, disse hoje o ministro do Ambiente, justificando o atraso com falta de autorização dos proprietários, argumento que os antigos mineiros rejeitam.
“No que diz respeito à recuperação das habitações, os números que me deram é que eram 127 e, dessas, 98 já estão recuperadas, e a 99ª vai começar agora em obras, foi obtido agora esse acordo, porque [sem ele] as obras” não podem ser feitas, afirmou o ministro João Pedro Matos Fernandes.
O titular da pasta do Ambiente e da Ação Climática acrescentou que “existe dinheiro e existe uma grande vontade” para requalificar as casas até ao fim, mas, para isso, ainda é necessária a autorização das 28 habitações que falta reabilitar.
“Temos de eliminar qualquer vestígio de radioatividade. (…) Porque as casas são de alguém e [os proprietários] têm de manifestar esse interesse e essa mesma vontade” de reabilitar as casas, realçou o ministro.
O governante falava na cerimónia de inauguração de uma nova barragem, de uma estação de tratamento de águas de minas (ETAM) e da requalificação da antiga oficina de tratamento químico e dos antigos laboratórios e escritórios adjacentes à oficina, envolvendo um investimento total de 32 milhões de euros nas antigas minas da Urgeiriça, no concelho de Nelas.
Este argumento não convenceu, no entanto, o presidente da Associação dos Antigos Trabalhadores das Minas da Urgeiriça (ATMU), António Minhoto, que esteve presente na sessão, pois no fim iria ter uma audiência com o ministro do Ambiente.
“Exigimos uma data final para concluir todas as habitações, data essa que a EDM [Empresa de Desenvolvimento Mineiro] se comprometeu em analisar”, explicou no fim da reunião com o ministro e outros responsáveis, António Minhoto, que não escondeu o desagrado pela situação.
“É essa a contradição. Não é verdade e não é verdade, porque não há cá neste momento empreiteiros a trabalhar, foram-se embora. A EDM já tem lá toda a documentação de muitos moradores. Apresentámos casos que já apresentaram tudo [toda a documentação] e continuam a não ser desenvolvidas as obras”, argumentou este responsável.
O presidente da ATMU foi recebido pelo ministro do Ambiente e da Transição energética e pelos presidentes do conselho de administração da EDM, Rui da Silva Rodrigues, e da Câmara Municipal de Nelas, José Borges da Silva, que na sua intervenção disse que “havia quem insistisse em olhar para o copo meio vazio, em vez de ver que está praticamente cheio”.
“Dissemos que pode arrancar já e há condições para arrancar e no respeitante às casas demos a nossa opinião do ‘copo cheio, copo meio’, mas o copo já devia estar mais do que cheio e ainda há habitações, como foi comprovado, não por culpa dos moradores como às vezes se pode crer, mas por falta de empenhamento e resolução deste problema”, apontou.
Neste sentido, falou em “falta de empenho” e isso, segundo António Minhoto, “vê-se pelos logradouros que não têm nada a ver com as casas, é do exterior, e não tem nada a ver com empreiteiros, podem ser outros operadores a fazer e não é feito”.
“E mais: há outra contradição. Há casas que já estão intervencionadas, precisam só da declaração comprovativa de que a casa tem os níveis conforme os parâmetros que a União Europeia exige e essas casas não têm essa declaração e não se sabe porquê. Não é preciso dinheiro, é preciso dar ordens à Universidade de Coimbra [para] vir fazer esse levantamento final”, defendeu.
A Urgeiriça recebeu o ministro do Ambiente com bandeiras pretas ao longo da estrada e espalhadas nos muros, quer das habitações, quer das instalações das antigas minas. Bandeiras que José Borges da Silva considerou que “faziam sentido há 15 anos, não agora”.
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