Os mistérios e as inquietações do sobrenatural que vão passando, de geração em geração, através de mitos e lendas do concelho de São João da Pesqueira motivaram a escrita de um livro, da autoria do escritor e etnólogo Alexandre Parafita.
Lançado esta semana pela editora Zéfiro, o livro “S. João da Pesqueira – Património Imaterial: linguagem, lendas e mitos” é o resultado de uma investigação realizada no âmbito do Centro de Estudos de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que Alexandre Parafita integra.
Segundo o escritor, as “memórias históricas e simbólicas, saberes ancestrais, marcas de religiosidade, narrações de batalhas entre mouros e cristãos” foram recolhidas e estudadas em viagens pelas aldeias do concelho de São João da Pesqueira, no distrito de Viseu.
Alexandre Parafita avançou à agência Lusa que, nesta obra, é possível encontrar “registos lendários de almas penadas que se manifestam ruidosamente no cemitério” ou de “um monge que salvou uma criança órfã de três meses amamentando-a pelos seus próprios mamilos”.
Há também referência à “mão do morto roubada no cemitério e usada como talismã pelos criminosos”, ao “demónio saltitão que deixou as garras gravadas nos penedos”, ao “lobisomem que em vez que cavalgar voava sobre o rio Douro percorrendo sete paróquias numa hora” e a “uma aldeia que mudou de lugar para fugir às invasões de gafanhotos e formigas”, acrescentou.
O escritor considerou ainda marcante “a história de Frei Baltasar da Piedade, que viveu em clausura do Convento de São João da Pesqueira até aos 112 anos e que, adoecendo com onze anos de idade, foi dado como morto e sepultado, tendo sido desenterrado vivo dias depois, apenas apresentando fraturas de uma perna e costela provocadas pela enxada do coveiro”.
Entre as muitas narrações, é ainda contado “o segredo da ascendência moura dos Távoras, assim como a saga do temerário Conde de São João que aterrorizou as populações raianas da Galiza”, e também “a lenda de Dona Antónia (a Ferreirinha) que se salvou do naufrágio no Cachão da Valeira graças à saia de balão que usava, e que viu afundar-se o Barão de Forrester devido ao peso de um cinto que levava cheio de moedas de ouro”.
Alexandre Parafita disse à Lusa que se mantém empenhado “em desenvolver trabalhos na área do património imaterial do Douro”, por considerar que esta é uma lacuna que ainda existe na região.
“A Comunidade Intermunicipal do Douro, que é composta por 19 concelhos, tem inscrita no seu plano estratégico a promoção, inventariação e divulgação do património imaterial do Douro como elemento fundamental de promoção e valorização da identidade e espírito duriense, pelo que é de esperar que haja uma vontade efetiva para estimular este género de trabalhos”, frisou.
A obra “S. João da Pesqueira – Património Imaterial: linguagem, lendas e mitos” segue-se a outros estudos que Alexandre Parafita tem realizado na região do Douro e do qual já resultaram três volumes do “Património Imaterial do Douro – narrações orais”, dedicados aos concelhos de Tabuaço, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Vila Real e Sabrosa.
Lusa
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