Portugal é um país assimétrico, desequilibrado e de regiões sem as mesmas oportunidades de progresso. É um país tão pequeno que chega a ser incompressível a existência de tanta assimetria. A distância entre o litoral e o interior é tão curta que não se percebe este estado de coisas. As afirmações são todas de Jorge Coelho, ex-ministro das Obras Públicas, e foram proferidas em Moimenta da Beira, esta quinta-feira de manhã, 17 de maio, nas VIII Jornadas de Cidadania, no painel “Economia e território: mais e melhor emprego”.
O ex-governante, que é hoje empresário e o rosto mais conhecido do “Movimento pelo Interior”, provou com a crueza dos números todas as afirmações que produziu: “no litoral há 104 pessoas por m2 e no interior apenas 0,28 pessoas; 82% da população com menos de 25 anos vive no litoral, no interior só 18%; 86% das empresas estão no litoral e apenas 14% no interior; 89% das dormidas turísticas acontecem no litoral; 89% dos alunos do ensino superior estudam no litoral; o interior perdeu um milhão de pessoas desde 1970, enquanto o litoral ganhou 2,7 milhões no mesmo período de tempo”.
Soluções? “Vão ser necessárias medidas radicais para mudarmos este estado de coisas”, sublinha Jorge Coelho, lembrando que o país está assim “por culpa de todos, de todos nós, de todos os governos que não tiveram coragem de mudar o ‘status’”. Porém, o antigo ministro também não diaboliza o interior (e quem aqui vive). “Lá no litoral as pessoas vivem melhor? Muitas não, não vivem! É lá que estão as grandes bolsas de pobreza”, diz, afirmando contudo que a estratégia para equilibrar Portugal, não é colocar o litoral contra o interior ou o interior contra o litoral, “a causa tem de ser nacional”, enfatiza, embora avisando que os problemas de cada região “devem ser resolvidos de forma específica, região a região e até mesmo de concelho a concelho”.
José Eduardo Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, que também participou no painel, não podia estar mais de acordo. “As políticas centralistas têm destruído o país todo”, afirma, não percebendo porque é que ainda não foram criadas as regiões administrativas, como manda a Constituição Portuguesa. Até lá, o autarca reivindica “muito mais políticas públicas para o interior” e a legitimação pelo voto popular dos dirigentes das associações de municípios intermédias como as CIM. “Serem legitimados é diferente de serem nomeados”, explica.
O autarca também considera que muita coisa tem de mudar, para se inverterem situações que podem estar já numa situação de não retorno. “A crise demográfica, por exemplo, é um caso dramático”, realça José Eduardo Ferreira que, apesar de tudo, se mantém otimista em relação ao futuro.
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