O ministro do Ambiente defendeu a criação de um centro interpretativo nas antigas minas da Urgeiriça, porque “o importante é projetar o futuro”, em vez de um museu, como pretende a associação dos antigos mineiros.
“O que é que parece sempre melhor? Um espaço que honre a memória ou um espaço que projete o futuro? Um espaço que honre a memória é certamente sempre interessante, mas cristalizado”, sublinhou João Pedro Matos Fernandes.
O ministro do Ambiente e da Transição Energética falava aos jornalistas no final da cerimónia de inauguração de uma nova barragem, de uma estação de tratamento de águas de minas (ETAM) e da requalificação da antiga oficina de tratamento químico e dos antigos laboratórios e escritórios adjacentes, num total de 32 milhões de euros, nas antigas minas da Urgeiriça, no concelho de Nelas.
Nas intervenções que antecederam o governante, o presidente do conselho de administração da Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) e o presidente da Câmara Municipal de Nelas defenderam a criação de um centro interpretativo com base nas minas de urânio.
“Quanto mais esse espaço preparar o futuro com emprego qualificado, que garanta muito mais cuidado de utilização com minérios como este, nos sítios onde eles vierem a ser utilizados (…) Se conseguirmos ter a certeza de conciliar aqui também um centro de saber que nos ajude a cuidar de forma muito mais cuidadosa estes mesmos, a radioatividade do futuro, esse é, obviamente um ganho muito grande”, argumentou o ministro.
João Pedro Matos Fernandes lembrou que a radioatividade faz parte do dia a dia, numa ida ao hospital ou ao dentista, na realização de exames e, por isso, disse que entendia que “a radioatividade é uma palavra que causa sentimentos contraditórios”.
“Aqui a maior questão é atrair pessoas, porque o problema não está, certamente, na construção do edifício, esse é fácil. Temos de ter um programa funcional que associe esses mesmos centros de saber que, em Portugal, não há muitos”, argumentou.
Neste sentido, disse que “é do maior interesse que de facto, num espaço tão simbólico” como é o das antigas minas de urânio da Urgeiriça, se crie o centro “cultivando também a sua memória e projetar o futuro com um novo saber e novas tecnologias”.
“Se temos este passado é da maior importância construirmos um futuro. Neste momento, estamos num museu, qualquer que seja a placa ali à porta. (…) O museu não tem de ser um espaço fechado. Quem vier a este parque de merendas já vai ficar com uma visão razoavelmente completa daquilo que é este mesmo espaço e o que foi este espaço”, considerou.
O presidente da Associação dos Antigos Trabalhadores das Minas da Urgeiriça (ATMU), António Minhoto, que “há muitos anos” luta pela criação de um museu mineiro na localidade, disse, no final de uma audiência com o ministro e outros responsáveis, como os presidentes da câmara e da EDM, que “o museu pode ser o embrião” do centro.
“Dissemos ao senhor ministro que um pequeno museu seja como embrião desse centro interpretativo. Não é uma contradição e há necessidade, porque são documentos históricos e que seja já implantado esse museu”, exigiu.
António Minhoto lembrou que o centro interpretativo “é uma coisa que já vem do anterior conselho de administração, já andam há décadas a defender” a instalação de um centro nas antigas instalações.
“Que se faça a inauguração final com as casas e as pessoas, em primeiro lugar, o museu que pode ser o embrião para o centro interpretativo a funcionar para que também os mineiros que ainda são vivos possam ver a sua história ali descrita”, rematou.
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