O festival “Que jazz é este?”, em Viseu, que ficou sem apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes), teve de abdicar de um dia de concertos e de um projeto comunitário “muito importante”, que será adiado, disse a sua responsável.
“Esta falta de apoio obriga a trabalhar mais todos nós, obriga a alguns ajustes na contratação pontual de pessoas e obriga-nos a abdicar de projetos muito importantes que, infelizmente, vão ter de esperar por um outro ano”, disse à agência Lusa Ana Bento, diretora da coletividade Gira Sol Azul, que organiza o festival “Que jazz é este?”, em Viseu, desde 2013.
Ana Bento explicou, porém, que “havia um plano b”, uma vez que estava “consciente de que este apoio podia não ser efetuado”, mas a “ausência de apoio não permite fazer o festival como a Gira Sol Azul desejava, ficando por aquilo que é possível fazer, mas com muita dignidade, profissionalismo e qualidade”.
“Cai um dos dias que tínhamos pensado. São menos dois concertos. E não vamos poder fazer um projeto, que é grande, de criação artística com a comunidade”, um projeto que, “para nós, era muito importante de concretizar”, descreveu Ana Bento à Lusa.
Os ‘cachês’ dos artistas “não vão ser mexidos”, ou seja, “a decisão podia ter passado por aí, mas a Gira Sol Azul sempre defendeu o mínimo de dignidade no valor dos projetos e essa hipótese estava fora de questão”.
Esta responsável esclareceu que a organização trabalhou “com o que era certo, os 55 mil euros de apoio da Câmara de Viseu”, assegurados por quatro anos. “Tudo o resto não era certo e, como tal, fazia parte de um plano a concretizar, [apenas] se possível”.
A diretora da coletividade assumiu que, “apesar da frustração, é importante saber perder” e, por isso, não recorreu da decisão da DGArtes, apesar de reconhecer “alguma surpresa na incoerência da avaliação”.
“Sei que é muito difícil avaliar. É um trabalho dificílimo. Mas é surpreendente a incoerência que existe na avaliação, porque na justificação da [nossa] avaliação, os comentários são, em metade dos itens, com adjetivos de muito bom e elevado”, assegurou.
“Em três deles usam os mesmos adjetivos acrescentando um ‘mas’ e apontam qualquer coisa, mas depois a pontuação é a mesma para os itens em que está tudo bem e os que têm algo a apontar. E isto choca ou é surpreendente”, prosseguiu Ana Bento, em declarações à Lusa.
O festival tem recebido 25 mil euros anuais por parte da DGArtes, com base em resultados de concursos anteriores de apoio a projetos deste organismo, apesar de este ano a coletividade se ter candidatado ao patamar dos 35 mil euros, “tendo em conta o crescimento progressivo” do evento.
A programação da edição deste ano, adiantou Ana Bento, “está fechada há mais de um mês” e vai ser apresentada na primeira semana de julho, tendo em conta que o festival decorre de 20 a 23 desse mês.
O presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, disse hoje em reunião pública do executivo e aos jornalistas, que o Ministério da Cultura “devia justificar estes cortes” no apoio às entidades organizadoras.
“Parece que não há uma distribuição espacial correta, nem há essa preocupação, porque tenho a certeza que uma boa parte dos eventos que tradicionalmente eram apoiados, continuam a ser apoiados”, reagiu.
Neste sentido, apontou para o “centralismo” por parte do Governo, uma vez que defendeu que “se fosse uma promoção da câmara ainda se podia dizer que era por outros motivos, mas não é”.
“Dá a impressão que eventos para o interior, os que há, são um luxo, quando deviam ter, se calhar, até prioridade em relação a outros”, disse Fernando Ruas, sublinhando “a quantidade de acontecimentos que estavam previstos, e que são quase todos no interior, e que por um ou outro motivo foram desclassificados, ou perderam [apoio] por décimos”.
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