O presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Tondela anunciou que vai ser implementado um plano que teve como base a auscultação dos mais novos que se queixam de não serem ouvidos.
“O que mais nos pediram, ao longo dos últimos dois anos, foi sobretudo para serem ouvidos, foi o mais frequente e temos imensos relatos e inquéritos, com isso. Dizem que não são compreendidos e nem sequer são ouvidos, que não têm direito a palavra”, afirmou, em declarações à agência Lusa, Márcio Santos.
O presidente da CPCJ de Tondela acrescentou que o lamento lhes chegou “dos mais diversos contextos, desde o familiar, porque acham que os pais não os ouvem, ao escolar, onde têm de cumprir as regras, mas ninguém ouve a sua opinião e sugestões, não são tidos nem achados”.
Esta auscultação serviu para elaborar o Plano Local de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, inserido no Projeto Adélia, que é de cariz nacional e irá para o terreno agora, por um período de quatro anos.
“Somos das primeiras CPCJ a ir para o terreno implementar o plano que foi desenvolvido nestes últimos dois anos e que passou pela auscultação das crianças e jovens, das famílias, instituições e entidades do território” de Tondela, sublinhou.
A comissão delineou “o plano local que assenta em quatro eixos: comunidade, crianças e jovens, famílias e inovação social”, porque foram “os campos identificados para trabalhar agora, a montante, para evitar problemas no futuro”.
“Sempre com a criança e o jovem como o centro de todo o nosso trabalho, no eixo da comunidade. A ideia é trabalhar com as mais diversas instituições que diariamente têm um papel de interação com as crianças”, explicou.
A título de exemplo falou nas escolas, centros de saúde, igrejas ou mesmo GNR, onde vão “sensibilizar e desenvolver um conjunto de boas práticas que devem ser usadas quando interagem com os menores, quer pela forma como são acolhidos como atendidos”.
“Desde o espaço onde isso acontece até à forma como é feito. Por exemplo, na GNR, se a criança ou jovem é atendido na mesma sala onde é um adulto ou até um criminoso. No fundo, queremos implementar boas práticas”, exemplificou.
No eixo das crianças e jovens, o trabalho passa por “incentivá-los a participar mais na comunidade, porque, apesar de hoje se falar muito nisto, na prática, ninguém as ouve”.
“Se calhar, quando é feito um parque infantil, ninguém se lembra de ouvir as crianças e perceber o que é que elas precisam ou gostavam de ver no espaço”, apontou.
Na família, a CPCJ vai “trabalhar junto dela, na sua capacitação e na promoção da parentalidade positiva” o que, em termos práticos, vai fazer com que haja “algumas ações junto dos pais e também avós, que muitas vezes são o suporte de retaguarda das crianças”.
“A inovação social também passa muito por dar voz às crianças, muito até na ótica das novas tecnologias, do digital, aproximá-las da comunidade com o recurso de alguns equipamentos e até aplicações que lhes são mais próximas e que podem ser motivadoras para a participação na comunidade”, sustentou.
Com uma média de 60 casos sinalizados ao ano, Márcio Santos afirmou que “o número não tem vindo a aumentar, mas tem vindo a alterar a tipologia dos casos” e, “se há uns anos a violência doméstica não estava nos principais casos, agora é a principal sinalização”.
“Está a aumentar, sobretudo neste contexto de pandemia, com as famílias em casa, em que foi bastante evidente e a maior parte dos casos chega-nos pelas autoridades policiais. Mas há outro que nos começa muito a chegar também, que é a questão da exposição dos menores nas redes sociais e do contacto com os adultos”, alertou.
Por isso, justificou, o plano local também incide “em trabalhar a comunidade e as crianças e jovens a montante para que no futuro apareçam os resultados”, na perspetiva de “ser a própria comunidade a se autorregular”.
“Ao trabalharmos agora, acreditamos que podemos evitar que algumas situações cheguem a um estado limite em que as crianças acabam por nos chegar numa ótica de reparar o erro nas mais diversas situações como de violência doméstica ou até no comportamento em espaços públicos que, cada vez mais são até um bocadinho assustadores”, defendeu.
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