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Comércio tradicional de Viseu lamenta quebra de faturação na Páscoa

O comércio tradicional de Viseu tem na época da Páscoa “a primeira faturação do ano” e, este ano, pela segunda vez, sente a ausência dos clientes, admitiu à agência Lusa o presidente da associação.

“A época da Páscoa é, tradicionalmente, uma época bastante interessante, em que se faziam negócios e na qual as empresas se movimentavam e tinham caixa, porque estamos a sair do inverno, quando as pessoas não saem e então era na época da Páscoa que acontecia a primeira faturação dos comerciantes”, explicou Gualter Mirandez.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Comercial do Distrito de Viseu contou que “nas miniférias de Páscoa eram milhares as pessoas que se movimentavam nas ruas, nomeadamente espanhóis.

“Só por aí é fácil de calcular o que de positivo trazia para a economia. Agora, é o inverso que está a acontecer. Tudo continua praticamente fechado, porque isto da venda ao postigo não funciona para a maior parte dos negócios, porque as pessoas querem entrar, querem experimentar, mexer, não têm apetência para fazer compras ao postigo”, considerou.

No entender de Gualter Mirandez, “só quando houver uma imunidade de grupo” ao vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, é que “volta a surgir a confiança para fazer negócios, porque, acima de tudo, as pessoas não têm também confiança no que estão a fazer, que é um dos fatores mais importantes para o comércio”.

Com um futuro “extremamente complicado” e “também muito indeciso”, os comerciantes “tentam vender alguma coisa `online`” através de parcerias e algumas plataformas, “mas são negócios mínimos, nada de muito significativo”.

As plataformas digitais foram “o grande ponto de venda” da fábrica de chocolate artesanal A Delícia, quer através da página oficial na internet, como nas páginas nas redes sociais do Facebook e do Instagram, “que permitiram assegurar a pouca faturação”, admitiu a fundadora e gerente.

Manuela Soares contou que teve “o primeiro ataque de ansiedade” no final de abril de 2020, quando olhou para os números da faturação e das despesas, após um mês a trabalhar sozinha.

“Faturei ao longo de todo o mês de abril o mesmo que costumava faturar num só dia antes da pandemia. Foi horrível”, lembrou.

A empresária salientou que “a Páscoa é a altura do ano em que se vende mais chocolate, muito mais do que no Natal”, o que no seu entender se deve à “estação da primavera, à alegria das pessoas, as cores, a criatividade, os ovos, os coelhos e todo um leque de amêndoas”.

Agora, com a reabertura da porta, entra um cliente de cada vez, o que “não é nada comparado com os quatro clientes que se atendiam ao mesmo tempo”, mas, para Manuela Soares, “é um regresso ao caminho, embora feito muito mais devagar, porque não tem nada a ver com a faturação de há dois anos”.

Na chocolataria, “a produção não parou, com esperança da porta aberta para a Páscoa”, um risco que Manuela Soares assumiu como “um tiro no pé que teve de ser dado, porque seria bem pior abrir a porta e não ter chocolates, do que ficarem os chocolates na loja por vender”.

Apesar de terem estado “constantemente a produzir”, garantiu que “a produção caiu na ordem dos 50%”.

A diferença é que “antes estavam as duas fábricas a produzir 10 horas por dia, por turnos, de segunda a sábado e, agora, é de segunda a sexta-feira e só no turno da manhã”.

“Quem nos manteve à tona da água foram os nossos clientes com mensagens encorajadoras e a pedirem para não desistirmos. Sei que havia encomendas que eram só para nos ajudar e isso é amor. E é amor de pessoas que não nos conhecem”, reconheceu.

 

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