A Cava de Viriato, é a prioridade da segunda fase do programa Viseu Património, anunciou a autarquia de Viseu.
“A Cava de Viriato passa a estar no coração do olhar, dos investimentos, do estudo e da paixão pela partilha e pela valorização museológica do Viseu Património”, anunciou o vereador da Cultura, Jorge Sobrado.
O vereador explicou que será desenvolvido o terceiro polo do Museu de História da Cidade (a seguir ao polo do centro histórico e ao polo virtual), que deverá surgir na Casa das Águias e que será um Centro Interpretativo da Cava de Viriato.
“A Cava ainda continua a ser um objeto estranho e muito pouco familiar para a população. É preciso vencer essa barreira e que a cultura, a identidade e a história constituam sentidos de pertença locais”, frisou.
Segundo Jorge Sobrado, haverá “uma articulação estratégica entre as duas fases” do Viseu Património e o dossiê de uma possível candidatura a Património da Humanidade da UNESCO será “uma consequência de um processo de investigação, de conhecimento e de aquisição de uma política cultural”.
O município de Viseu lançou, em 2016, o programa Viseu Património, com o objetivo de desenvolver, durante dez anos, uma estratégia de investigação e valorização do património histórico, arqueológico e cultural de Viseu.
A primeira fase focou-se na investigação sobre o património edificado do centro histórico e no desenvolvimento e assessoria científica e técnica em projetos para a sua reabilitação. Contou com a coordenação de Raimundo Mendes da Silva, ao abrigo de um protocolo com o Instituto Pedro Nunes.
A segunda fase, que dará especial atenção ao património arqueológico, será coordenada por Catarina Tente, no âmbito de um protocolo de cooperação científica e técnica com o Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa.
Catarina Tente disse que a Cava de Viriato “é um monumento único, enigmático, que mais nenhuma cidade do país, nem do resto da Península Ibérica, tem”, mas que necessita de ser melhor conhecido.
“Temos alguma ideia do que é a Cava, mas não sabemos exatamente o que é”, frisou, fazendo votos para que “não finte” os arqueólogos mais uma vez, até porque atualmente há novas tecnologias e conhecimentos que poderão ajudar no trabalho.
A investigadora disse que “qualquer arqueólogo no país sabe que a Cava é um problema”, sendo estudada já desde o século XVII. Hoje, sabe-se que “não é um acampamento romano, de certeza absoluta não é um acampamento lusitano e dificilmente é um acampamento militar, seja de que época for, porque tem uma dimensão demasiado grande”.
“Foi projetada possivelmente para substituir a antiga cidade onde nos encontramos hoje”, criando “algo de novo e impactante do ponto de vista visual”, explicou, avançando a hipótese de que poderá ter falhado por “ter sido planeada no tempo do rei Ramiro” que, “ao assumir a coroa de Leão, acaba por abandonar Viseu”.
Cada lado do octógono da Cava de Viriato tem em média 270 metros (pelo lado exterior), o que totaliza um perímetro de cerca de 2.160 metros. Catarina Tente lembrou que esta estrutura foi construída escavando um fosso até aos níveis freáticos e usando a terra removida para fazer a muralha, que atingiria cerca de sete metros, um projeto que considera “genial do ponto de vista construtivo”.
“É como qualquer problema científico: temos um problema, temos uma hipótese e vamos testá-la”, realçou.
A segunda fase do Viseu Património tem oitos medidas, as mesmas que os lados da Cava de Viriato.
Além do conhecimento e da divulgação da Cava de Viriato, o município quer criar uma Carta Patrimonial de Viseu, valorizar a história e o património de projetos emblemáticos como a Casa das Bocas e o Orfeão e salvaguardar e valorizar o jardim do Fontelo.
Um programa de atração de investigadores, a preparação dos dossiês da candidatura a património da UNESCO e a criação de um dicionário da história e das personalidades de Viseu são outras medidas previstas.
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