A companhia de teatro Amarelo Silvestre estreia o “Diário de uma República II”, peça na qual “inquietações” do dramaturgo, como a estratificação social e as suas implicações, estão em destaque.
“Há muito esta visão de que o patrão é sempre o mau da fita e o empregado não, apesar de sabermos que não é bem assim, mas a ideia de que é permanece e esta questão obriga a reflexão”, disse o diretor artístico à agência Lusa.
Fernando Giestas falava a propósito da antestreia de o “Diário de uma República II”, na sexta-feira, em, Nelas, distrito de Viseu, onde a companhia de teatro reside.
Uma reflexão que Fernando Giestas assumiu não querer “defender o patrão contra o mundo”, mas “as metáforas são lançadas e as pessoas, se quiserem, questionam-se e refletem sobre o assunto”.
“O texto tem um momento em que diz: perguntaram-me noutro dia o momento em que me tornei patrão e eu digo, eu estava desempregado, o dinheiro começou a faltar e a culpa por estar desempregado começou a aumentar”, desvendou.
E continuou: “E eu decidi criar o meu emprego. Tornei-me patrão por uma questão de sobrevivência e agora sou aquele que tem o poder de proporcionar dias santos na loja quando estou fora. Digo eu”.
“Deixei de ser colega. Não me sinto patrão, mas os outros olham para mim como patrão e isso é o que basta para se ser o que quer que seja. Passei a estar do lado do ‘eles’, quando a conversa é sobre nós e eles. E é isto”, disse.
Estas são algumas das inquietações que passou para o papel, assim como no “Diário de uma República I”, que estreou em 2021.
Dramaturgo, diretor artístico e um dos diretores da Amarelo Silvestre, Fernando Giestas mantém “a mesma inquietação” na escrita, ou seja, “não é um texto com princípio meio e fim, são reflexões, questões, sobre algo”.
Esta segunda edição “levanta outras questões, quem sabe outras memórias, outras vivências” e “quem não viu o primeiro, pode ver o segundo, porque não é uma continuação, mas quem assistir aos dois vai fazer ligações” no espetáculo.
Segundo a direção artística, o “Diário de uma República” é um projeto de teatro e fotografia, uma reflexão artística sobre as pessoas e os territórios da República entre 2020 – 2030.
Depois da antestreia na sexta-feira, em Canas de Senhorim (Nelas, distrito de Viseu), a peça segue para Loulé e depois continua por Portalegre, Seia, Leiria, Ponte de Lima, Viana do Castelo e, em 2024, no Teatro Nacional São Luiz, em Lisboa.
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