A associação ambientalista Zero vai apresentar queixa na Inspeção Geral do Ambiente pelas 1.600 toneladas resíduos perigosos deixados por uma empresa que os devia ter tratado na antiga Companhia Nacional de Fornos Elétricos, em Canas de Senhorim.
O dirigente da Zero Rui Berkemeier disse à agência Lusa que a Agência Portuguesa do Ambiente não consegue ter mão na gestão de resíduos perigosos como as 1.300 toneladas de vidros de televisores antigos, que têm chumbo, e as 250 toneladas de vidros de lâmpadas florescentes removidos das instalações da empresa Write Up, que entrou em insolvência em 2014.
A Zero quer que as entidades gestoras de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos sejam “penalizadas por terem permitido e financiado com o dinheiro dos consumidores a realização de operações ilegais de gestão de resíduos perigosos na empresa Write Up em Canas de Senhorim”, distrito de Viseu.
Parte do preço dos equipamentos elétricos e eletrónicos que os consumidores pagam é um ecovalor que os fabricantes canalizam para entidades que fazem a gestão dos equipamentos quando se tornam lixo.
Atualmente, há três entidades em Portugal a fazer a gestão deste tipo de resíduos: Weeecycle, ERP Portugal e Electrão (antiga AMB3E).
O problema, segundo a Zero, é que estas entidades, exceto a Weeecycle, que não existia quando a Write Up recebia resíduos, “foram encaminhando para a empresa milhares de toneladas de resíduos sem verificarem, como era sua obrigação, a forma como esses resíduos eram tratados e descontaminados”.
“O dinheiro está a ser usado para contratar empresas que não têm capacidade” para tratar os resíduos e cumprir as metas de reciclagem estabelecidas por Portugal, salientou.
Em 2017, o ecovalor por tonelada era de 66 euros, quando a meta mínima de reciclagem era 25 % dos equipamentos, e hoje, subida a meta para 65%, fica por 80 euros por tonelada, valores muito baixos para financiar uma reciclagem eficaz e competente.
“O barato sai caro”, ilustrou Rui Berkemeier, acrescentando que a APA e a Direção Geral das Atividades Económicas não podem alegar que não têm responsabilidade na definição do ecovalores, porque aprovam os modelos de negócio das entidades gestoras onde esses valores são estabelecidos.
A remoção das 1.600 toneladas de resíduos perigosos que estavam nas instalações da antiga Companhia Nacional de Fornos Elétricos, concelho de Nelas, terminou na quinta-feira passada, depois de cinco semanas de trabalho em vários armazéns de uma área de três hectares, propriedade da Caixa Geral de Depósitos.
A maior parte dos resíduos foi levada para o aterro de resíduos perigosos da Chamusca.
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