A pintura Última Ceia e a escultura Cristo Articulado da coleção do Museu Nacional Grão Vasco passaram a ser tesouro nacional, aumentando para 24 o número de peças com esta classificação neste museu de Viseu.
“Tínhamos 22 tesouros nacionais e passámos a ter 24, sendo que 20 deles são da autoria de Grão Vasco (Vasco Fernandes)”, disse à agência Lusa a diretora do museu, Odete Paiva.
A Última Ceia (ou Instituição da Sagrada Eucaristia), datada de 1535, era, segundo Odete Paiva, “a última pintura do Grão Vasco que estava no museu e, incompreensivelmente, ainda não tinha sido classificada”.
Na pintura a óleo em madeira de castanho, que inicialmente foi retábulo da Capela de Santa Marta do Paço Episcopal do Fontelo, é possível identificar “as características do processo de Vasco Fernandes”.
A ficha técnica da pintura aponta, por exemplo, o modo “como descentra os núcleos formais e os ordena em planos sucessivos, sempre unificados pela distribuição rítmica da luz”, o “rigor que coloca na expressão volumétrica e na plasticidade da forma”, a “densidade expressiva dos rostos” e o “preciosismo com que representa os pormenores de escala mais ínfima”.
Também obteve a mesma classificação a escultura Cristo Articulado, uma peça do final do século XIII (de autor desconhecido) que é considerada “extremamente importante, porque era usada durante as celebrações da Semana Santa, provavelmente na Sé de Viseu”.
De acordo com a sua ficha técnica, a imagem articulada em madeira e com vestígios de policromia, que terá sido usada na “procissão de passos” e no “auto do descimento da cruz”, tem articulações dos membros que permitiam que “pudesse ser apresentada de joelhos carregando a cruz, facilitando a encenação realista da crucificação e descimento de Cristo”.
“Que tenhamos conhecimento, em Portugal, somos o único museu que tem uma peça destas em exposição”, disse a responsável.
Odete Paiva explicou que a escultura desmembrou-se com o tempo e “só no início de 2000 é que foi possível fazer um estudo das madeiras e perceber que eram da mesma peça”.
“Neste momento, é a peça mais antiga que nós temos em exposição nas salas do museu, em termos de cronologia”, frisou.
O Museu Nacional Grão Vasco conseguiu também a classificação da Esfinge – um busto em mármore de 1898 – como bem de interesse público.
Esta escultura será uma das poucas obras de Augusto Santo (1870-1907) a ter chegado aos dias de hoje, depois de o escultor português, que vivia atormentado com a qualidade da sua arte, destruir todas as peças que tinha no seu ateliê.
“Há poucas peças deste escultor em exposição: esta que está aqui no museu e o Ismael, que tem o bronze no Museu de Arte Contemporânea – Museu do Chiado e o gesso no Museu Nacional Soares dos Reis”, contou.
Odete Paiva sublinhou que a escultura que se encontra em Viseu – um busto representando um “jovem com feições castas e inocentes” – é “muito interessante, sobretudo pela dificuldade de trabalhar o mármore e ser de uma perfeição arrepiante”.
De acordo com a responsável, a peça não foi classificada tesouro nacional “porque há muito pouca informação sobre o percurso artístico” de Augusto Santo e as suas obras.
“Foi classificada como de interesse público para ver se alguns historiadores vão investigar e estudar a vida deste escultor. Pode ser que se encontrem algumas obras que ficaram em Paris ou que tenham sido oferecidas a familiares”, referiu.
Os anúncios da classificação das três peças do Museu Nacional Grão Vasco foram publicados em Diário da República na terça-feira.
Odete Paiva sublinhou que estas classificações dão “mais visibilidade ao museu e à sua coleção” e que “os tesouros nacionais têm um tipo de proteção diferente” das restantes peças.
Lusa
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