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Museu de Lamego e Escola Latino Coelho refletem sobre passado colonial

O Museu de Lamego e a Escola Secundária Latino Coelho, que comemora 141 anos, desenvolvem o projeto comum “Sala colonial”, com o objetivo de provocar o autoquestionamento, de refletir sobre o passado colonial e promover uma educação crítica.

O projeto conta com o envolvimento de um grupo de professores da escola, por forma a promover a ativação de uma educação crítica, de autoquestionamento em relação ao passado colonial e estas representações que ainda perduram nos nossos espaços públicos educativos, na linguagem, na cultura e nos comportamentos do quotidiano”, explicou à Lusa a diretora do Museu de Lamego, Alexandra Falcão.

A “Sala colonial”, que tem o seu espaço físico, embora atualmente desativado, na Escola Secundária Latino Coelho, de Lamego (o antigo Liceu Nacional Latino Coelho, da cidade), assenta numa proposta da artista e investigadora Catarina Simão.

Com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, da Direção Regional de Cultura do Norte e do Município de Lamego, o projeto tem o “potencial pedagógico reflexivo no impulso para uma formação humanística, de condutas cívicas, igualitárias e de justiça social, que são as linhas estratégicas” do museu, explicou Alexandra Falcão à Lusa.

“Há 40 anos que o museu tem uma coleção de arte africana sobre a qual muito pouco sabemos. Uma coleção do Liceu Nacional Latino Coelho que fazia parte do recheio da antiga ‘sala colonial’, também chamado ‘museu colonial’ ou ainda ‘sala ultramarina’, que foram criadas em vários liceus nacionais como forma de exaltação do império português promovida pelo Estado Novo”, lembrou.

Com a “vontade de melhor conhecer e de mostrar ao público (…) a coleção deu origem a uma série de contactos, nomeadamente com a museóloga Inês Fialho Brandão, a partir do qual o projeto educativo começou a ganhar forma”, prosseguiu a diretora. Como a coleção, atualmente depositada no museu, pertencia à escola, “figurou-se absolutamente essencial que o processo de redescoberta partisse de um projeto educativo que envolvesse” a antiga e a atual comunidade escolar.

“A investigadora e artista [Catarina Simão] propõe utilizar esse espaço físico – da sala colonial -, para desenvolver todo um processo de redescoberta das coleções com uma narrativa inteiramente nova, devolvendo aos objetos a sua historicidade própria”, especificou. Isto, continuou, num “processo de informação em vídeo e em documentação dos objetos que será trabalhada na sala, mas sem os objetos, que estão no museu, e que datam de 1938 a finais de 1950”, disse à Lusa Alexandra Falcão.

“O projeto com a comunidade escolar vai ser desenvolvido ao longo de cinco semanas, na sala colonial [do liceu]. Mais tarde, em junho de 2022, dará origem a uma ‘performance’ e uma exposição, e que será resultado de todo esse processo”, concluiu.

Em 08 de novembro, dia do 141.º aniversário da escola, o projeto será apresentado na instituição de ensino e será reaberta à comunidade escolar a sala do Museu das Ciências Naturais que, contrariamente ao que aconteceu à sala colonial, manteve o seu recheio, nomeadamente “objetos de espécies vivas como carapaças, peles, mapas e fotografias”.

O restante, de um total de 288 objetos, “sobretudo, lanças, flexas, máscaras, estatuetas, instrumentos musicais, objetos utilitários de cestaria, calçado, pentes e adornos femininos foram para o Museu de Lamego”.

Atualmente, “está numa fase avançada de desenvolvimento uma página na internet com uma componente interativa”, onde serão “colocados todos os objetos, a sua catalogação”, para que “qualquer pessoa que tenha alguma informação que considere pertinente sobre o objeto ou o seu doador” possa partilhar.

“A coleção resultou de doações cuja memória se perdeu, e pretendemos criar uma biografia desses objetos, do percurso, de onde vieram, em que contexto foram trazidos, toda uma informação que desconhecemos, mas que queremos investigar de uma forma participada, envolvendo a comunidade”, conclui Alexandra Falcão, em declarações à Lusa.

O anúncio deste projeto do Museu de Lamego realiza-se numa altura em que a instituição encerra para obras de reabilitação, e quando a secção portuguesa do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal) realiza o “Encontro de Outono”, este ano dedicado a “Museus com coleções não europeias”, que decorre desde quinta-feira no Museu Municipal Santos Rocha, na Figueira da Foz, e que termina hoje os seus trabalhos.

Os trabalhos do encontro debatem igualmente os resultados preliminares do inquérito ‘online’ sobre a presença de património proveniente de territórios não europeus nos museus portugueses, públicos e privados, lançado em finais de maio, pelo ICOM-Portugal, com o objetivo de promover um maior conhecimento do património destas coleções, à guarda dos museus.

Para a presidente do ICOM-Portugal, Maria de Jesus Monge, estes resultados são um “primeiro passo importante” de “um longo caminho a percorrer” para o conhecimento das coleções dos museus portugueses e suscitar a reflexão.

 

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