A companhia de teatro Amarelo Silvestre inaugura no sábado uma instalação performativa com seis sofás interativos que revelam a relação da mulher, de diferentes idades e contextos, com este objeto, explicou à agência Lusa uma das diretoras artísticas.
“Os seis sofás de diferentes tamanhos, formas e características vão contar histórias através de sons e música, enquanto o visitante e espetador usa o sofá. São histórias que têm por base dezenas de entrevistas, e não só, realizadas a mulheres no concelho de Viseu”, revelou Rafaela Santos.
A ideia, que surgiu durante a pandemia, é a de que esta instalação performativa, “Sofá em mi maior”, dê a conhecer as distintas relações existentes entre mulheres de diferentes idades, entre “os pouco mais de 20 e os 70 e poucos anos”, e contextos de vida desiguais com o seu sofá.
Assim, na primeira fase do projeto, as duas criadoras e atrizes, Rafaela Santos e Lígia Soares, entrevistaram “dezenas de mulheres de seis freguesias distintas, desde a de Viseu, a mais urbana, até umas mais rurais, como Côta, por exemplo”.
“As relações são muito diferentes. A mais nova com bastante mais uso e muito mais à vontade e com mais sentimento de posse, e a mais velha sem grande vontade de lá estar, porque isso também significava que já não conseguia fazer mais coisas”, contou.
Rafaela Santos explicou que, a acrescentar à diferença de relações, há também “um sem fim de emoções e sensações que o sofá provoca” no dia-a-dia da mulher, uma vez que ele é “muitas vezes o colo no fim do dia de trabalho, ou o lugar onde se planifica o dia seguinte”.
“É também o palco de muitas conversas íntimas e de grandes brincadeiras em família ou com os filhos. Mas também é o cenário de muitos atos violentos e, por isso, além das entrevistas, também criámos histórias, algumas sangrentas. É um misto do real com a criatividade”, admitiu.
Um mesmo sofá, contou, “pode ser testemunha dos muitos estados de alma da mulher e das emoções vividas, dos sorrisos e das lágrimas que no dia-a-dia, ou em vários momentos de um só dia, se podem sentir”. E “pode ser colo, porque depende muito da razão que leva a mulher a procurar o sofá”.
Estas histórias foram depois transformadas em sonoridades, “quer com partes das entrevistas, como com música ou sonoplastia, de forma que quem se sentar no sofá possa perceber a narrativa e sentir” o que ele tem para contar.
“O que queremos oferecer é uma experiência sensorial, auditiva, dramatúrgica. É um convite ao universo que criámos, onde potenciamos certos aspetos da vida das mulheres que contactámos e as que inventámos, porque queríamos oferecer um leque vasto e diferenciado de experiências”, reconheceu.
Isto com o intuito de “obrigar o visitante/espetador a refletir sobre o lugar da mulher, do seu descanso e da sua relação com as tarefas diárias e até de quem tem mais direito ao sofá, da hora a que a mulher lá chega e o que lá acontece tanto de bom e muito bom, como de mau e de péssimo”.
Os seis sofás, que representam as mulheres das seis freguesias do concelho de Viseu, estão em sítios distintos da Casa da Ribeira e todos eles são “um convite ao visitante/espetador relacionar-se de alguma maneira” com o sofá.
Uma relação de proximidade que os autores do projeto nem sempre conseguiram, devido à pandemia e, por isso, muitas das reuniões e entrevistas foram `online`, assim como o trabalho com o João Lucas, que criou a sonoridade e a música, uma vez que está no Brasil”, também ele impedido de viajar.
Com cenografia de Carolina Reis, esta instalação performativa “é mais um passo no projeto” que quer chegar a um terceiro momento com a realização de um “espetáculo de teatro/dança/performance que possa também ele despertar para pequenas coisas”.
“Há uma série de pequenas coisas, algumas quase passam despercebidas quando temos uma vida equilibrada, mas, se olharmos com atenção, há muitas coisas que acontecem na vida da Mulher que nos magoa e o sofá é um pretexto para colocarmos em foco algumas questões”, admitiu.
E “se com isso houver uma maior atenção e consciência para aspetos do quotidiano que parecem banais, mas que não deviam ser”, então, “haverá naturalmente mudança de atitude”.
E se “o `sofá em mi maior` puder contribuir para isso, já valeu muito a pena”.
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