As principais ruas de Viseu assistiram hoje a um desfile em marcha lenta, com mais de 100 automóveis, num “buzinão de revolta contra a podridão social e corrupção”, disse um dos organizadores do evento que também aconteceu em Lisboa.
“Em função dos acontecimentos desta semana, motivo de tanto mediatismo e tanta polémica, achámos que devíamos manifestar o desagrado, não em relação a pessoas e à justiça. É um buzinão de revolta contra esta podridão social e esta corrupção que o sistema alimenta”, explicou à agência Lusa Fernando Figueiredo.
Este cidadão viseense contou que a ideia foi começando a ser partilhada nas redes sociais e, “de repente, engrossou e as partilhas foram tantas que apareceram mais de uma centena de carros” e a meio do percurso “juntaram-se mais alguns” ao desfile.
“Numa cidade que está sempre amorfa, é um número de participantes fantástico”, considerou Fernando Figueiredo que disse que a ideia “chegou a Aveiro, Porto e Lisboa, e havia concentrações marcadas para a mesma hora”, nas principais avenidas das cidades.
Este responsável quer que “Lisboa não ignore o país e que perceba que é preciso dar prioridade às questões da justiça, para que seja igual para todos, porque não é possível continuar a ter um Estado de direito que está refém daqueles que dispõem dos maiores recursos”.
“É altura de o Governo dar atenção ao combate à corrupção, ao crime do colarinho branco e à criminalidade económica e financeira, porque é isto que tem empenhado ano após ano o nosso futuro e que não nos deixa sair desta podridão em que nos encontramos”, defendeu.
A volta, que durou cerca de uma hora, “foi devidamente pensada para não incomodar muito” os viseenses, e “a Câmara e a PSP foram devidamente informados” da ação. No final da iniciativa, que “decorreu sem problemas”, “só foi pedida a identificação ao primeiro da fila”, neste caso, a Fernando Figueiredo.
“Acredito que seja uma mera formalidade”, admitiu Fernando Figueiredo, enquanto adiantou que foi pensado num buzinão, “para que se respeitassem as regras de combate à pandemia e não houvesse nenhum ajuntamento, assim, as famílias estariam distribuídas nas viaturas”.
Também Pedro Esteves, de Viseu, disse que ele e a esposa estão “cansados de acordar cedo, todos os dias, para irem trabalhar para muitos que vivem à custa do trabalhador honesto”.
“Vim buzinar, porque estou contra a impunidade à corrupção, contra esta justiça que não condena os poderosos”, assumiu Carla Mendes.
Entre os manifestantes circulou um manifesto que citava o julgamento de José Sócrates, cujo “resultado se lamenta para a justiça e para todos os portugueses”, e, por isso, o documento refere que “urge torná-la mais rápida, eficiente e eficaz em todas as suas fases, pois pior que a corrupção económico-financeira, só mesmo a corrupção moral”.
“Urge também acabar com a promiscuidade entre o poder executivo e o poder judicial, entre o governo e os tribunais, entre os políticos e os juízes”, lê-se no documento que defende que “todas estas polémicas com a justiça, com estes processos mediáticos seguem o mesmo padrão: arquivamento, prescrições, inquéritos prolongados e julgamentos exageradamente lentos”
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