O cardo, cuja flor é usada no fabrico do queijo, foi aproveitado por investigadores do Instituto Politécnico de Viseu para a criação de móveis mais leves, que foram levados aos certames de design e mobiliário de Milão e de Londres.
“Andávamos a tentar desenvolver um produto que fosse leve, para permitir aos designers fazerem móveis de madeira que competissem com os plásticos”, explicou esta quarta-feira à agência Lusa Jorge Martins, um dos membros do projeto e docente do Departamento de Engenharia de Madeiras do Politécnico de Viseu.
Ao ouvirem o professor da Escola Superior Agrária de Viseu Paulo Barracosa falar da planta do cardo (Cynara cardunculus), os membros do projeto aperceberam-se “da quantidade de resíduos, que parecem quase madeira, que sobrava das plantações”, depois de ser retirada a flor necessária para o queijo.
“O arbusto tem dois metros de altura e só se aproveitam três ou quatro centímetros que estão lá em cima para fazer o queijo, o resto que está para baixo não vale para nada. Achámos que era boa ideia experimentar”, contou Jorge Martins.
Segundo o docente, uma das preocupações do departamento é, precisamente, “tentar arranjar utilizações de valor acrescentado para produtos da floresta que não têm valor”.
“A nossa ideia é pegar em materiais que as pessoas acham que já não valem nada e provar que eles podem ser usados como produto. Se houver mercado, alguém os há de apanhar”, frisou. Com o cardo, os investigadores conseguiram criar um material mais leve e também fácil de fazer, quase como se fosse “um bolo que se leva ao forno”, acrescentou.
Jorge Martins contou que a ideia inicial era o material ser apenas “um complemento para as indústrias do queijo”, mas “os designers acharam que tinha potencialidades do ponto de vista estético”.
Os designers desenharam peças de mobiliário que foram levadas para Milão e Londres, nomeadamente bancos, um móvel para guardar queijos, outro para ser usado nas queijarias na parte da maturação do produto e um carrinho de transporte de sobremesas. “Tivemos vários convites para levar a ideia a outras feiras, só que o nosso projeto só previa duas idas”, afirmou.
O professor explicou que o material conseguido com o cardo é leve, mas resistente mecanicamente, sendo agora o desafio “torná-lo 100% biodegradável”.
O projeto “LIGHTWOOD – Compósitos de madeira e poliuretano inovadores” é coordenado pelo Departamento de Engenharia de Madeiras da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu, através do seu grupo de investigação aplicada em tecnologia de processamento de derivados de madeira inovadores “WBPTech/Grupo de I&DA Wood Based Products Technology. Este grupo desenvolve, há mais de 20 anos, soluções para a indústria de compósitos de madeira.
O projeto foi cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Portugal 2020, no âmbito do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização.
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