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Fotografia Cruzeiros no Douro

Nelas: falta de matéria-prima ditou o encerramento da vinícola mais antiga da região do Dão

A falta de matéria-prima ditou o encerramento da vinícola mais antiga da região do Dão, em Nelas, com o despedimento coletivo de nove funcionários, disse à agência Lusa o liquidatário.

“A empresa fechou portas, porque praticamente não há matéria-prima. As pessoas não estão a produzir e poucas vindimas há. É só ver as coisas aqui no Dão. Já só há quatro cooperativas e eram 10. As empresas todas, como a nossa, já fecharam, somos os últimos, embora tenha aparecido uma ou outra, noutro registo e com uma imagem um pouco mais recente”, admitiu Rui Henriques.

Este responsável, antigo membro do conselho de administração e atual liquidatário da Vinícola de Nelas, contou à agência Lusa que o encerramento da empresa que faria este ano 80 de vida é “também fruto da desertificação do interior e a região do Dão não é exceção”.

“A Vinícola de Nelas chegou a ter 700 fornecedores e agora tinha menos de 100. Chegámos a receber quatro milhões de quilos e no ano passado recebi 200 e poucos mil quilos. Num ano normal, recebia 500, 600 ou 700 mil quilos, mas para aquilo que era o nosso tipo de negócio só tínhamos uma solução, que era adquirir fora do país e não quisemos entrar nesse campo”, explicou.

Rui Henriques adiantou que a diminuição de fornecedores que teve no último ano deveu-se, “principalmente, à coleta, porque muitos foram obrigados a coletarem-se e muitas pessoas perdem o fundo de desemprego ou outras situações” em que se encontravam, porque “a maioria das pessoas que entregava uvas recebia entre 100 a 600 euros e portanto não lhes interessava”.

Outro dos motivos que levou à liquidação da vinícola, no mês de setembro, “foi a questão dos fornecedores”, explicou Rui Henriques, que contou que “têm todos, ou cerca de 80% ou 90%, mais de 65 anos,” ou seja, “são tudo pessoas já com uma certa idade” que, agora, deixarão as vinhas.

“Por experiência própria, metade vai abandonar. Já passei por este tipo de situação, ao contrário. Quando fechou a Cooperativa de Nelas, supostamente, podiam entregar aqui, que não havia mais ninguém. Mas não vi isso: o que eu vi, foi que fiquei com 10, 15 ou 20 pessoas, dos quais entregaram, na altura, 100 ou 200 toneladas [de uva] e os outros 600, 700 ou 800 dividiram-se e metade das pessoas abandonaram” as terras, contou.

A Vinícola de Nelas foi fundada em 1939 e “chegou a ter, há seis anos, 23 funcionários”, um número que reduziu no início de 2019 para 13 e, agora, “encerrou em setembro com nove funcionários a quem foi tudo pago”.

“No fundo, o intuito de fechar é precisamente o de pagarmos a toda a gente e não ficarmos a dever, porque não é vergonha fechar, é vergonha ficar a dever. Não dava dinheiro, dava prejuízo, e havia que resolver e, das duas uma: ou continuávamos e, às tantas, daqui a três ou quatro anos, não pagávamos nada a ninguém, ou os proprietários fechavam agora e pagavam a toda a gente”, clarificou.

Das 28 pessoas, que são os sócios ou herdeiros dos sócios, “porque há sócios com mais de 90 anos, dessas, só quatro é que vivem no distrito de Viseu e isso mostra bem o que é a desertificação do interior”, considerou o liquidatário, que acredita que o encerramento “talvez seja um prenúncio de que venham outras pessoas, que adquiram os terrenos e façam explorações um pouco maiores”.

 

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