O presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR Dão) disse à agência Lusa, a propósito do 111.º aniversário daquela região demarcada, que ambiciona que o Dão produza dos vinhos mais caros, logo de maior qualidade, do país.
Há muitas décadas que se diz que o Dão é a Borgonha portuguesa e, como é sabido, Borgonha é a região de França onde os vinhos são mais caros, mesmo mais caros do que em Bordéus. Portanto, o que nós queremos é ser a região dos vinhos mais caros, o que quer dizer que seremos os melhores vinhos”, ambicionou Arlindo Cunha.
O Dão é “a segunda região demarcada mais antiga do país, a seguir à região do vinho do Porto e, em matéria de não licorosos, ou seja, de mesa, é a primeira e foi criada pelo então ministro Ferreira do Amaral”.
Arlindo Cunha explicou que o percurso nem sempre foi de glória apesar desta comparação com os vinhos franceses ter surgido nos finais do século XIX, altura em que a região tinha “muita notoriedade, pela elegância dos seus vinhos” e, por isso, “o cientista e enólogo Cincinato da Costa escreveu que a região do Dão produzia os vinhos mais elegantes de Portugal, a lembrar os melhores vinhos de Borgonha”.
Uma notoriedade que se prolongou, no entender do presidente da CVR, até à década de 1980, depois “teve um período difícil de lidar com a concorrência e com outras regiões do país, até com a adesão à comunidade europeia e os apoios que levaram à criação de outras vinhas”.
“Andou cerca de década e meia a trabalhar para se reestruturar e preparar para um novo combate, lidar com a concorrência interna e externa e a verdade é que a estratégia seguida foi muito sábia”, defendeu Arlindo Cunha, lembrando o caminho percorrido.
Na altura, nos finais dos anos 1990, “havia a moda de plantar castas estrangeiras” e, “feliz e sabiamente, numa decisão devidamente pensada e estruturada, [o Dão] resolveu estruturar as vinhas com as suas castas autóctones ou na região há muitos anos, ou mesmo séculos, e o tempo veio mostrar que foi o melhor caminho”.
“Se este Dão de hoje, esta nova fase, está a ter o sucesso que tem, é porque insistiu nesta tradição das castas, mas já com inovação”, apontou.
Segundo este responsável, a região do Dão tem catalogadas 66 dessas variedades diferentes de videiras, como é o caso da “touriga nacional, a casta rainha dos vinhos tintos”, e o encruzado, a casta rainha dos vinhos brancos”.
E se, no passado “o Dão teve muita notoriedade devido aos vinhos tintos, hoje está a ser redescoberto também pelos brancos”.
Atualmente, a região “está a crescer e o objetivo é continuar a crescer, mas, sobretudo, acrescentando valor”, até porque “os vinhos do Dão são hoje os segundos vinhos com preço mais elevado no mercado nacional”.
“O que queremos é continuar por essa senda, porque o que importa nem é tanto produzir em quantidade, embora também seja importante, mas é importante se for com a criação de valor, ou seja, com uma melhoria gradual dos preços, porque para haver bons vinhos tem de haver boas vinhas e nós só podemos pagar com justiça aos produtores se se conseguir vender melhor”, considerou.
No entender deste responsável, esta estratégia de criação de valor “é uma trajetória estrutural e, necessariamente, lenta”, uma vez que, “para conquistar mercado, primeiro é preciso ter qualidade e depois comunicar ao mercado essa qualidade” e isso “demora muito tempo e exige muito investimento, em termos de promoção”.
“É sem dúvida o nosso maior desafio neste momento: conseguir preservar a nossa melhor qualidade, aumentar os preços dos vinhos, o preço médio da garrafa, e remunerar melhor os produtores para eles produzirem ainda melhores uvas, é esse o objetivo, para sermos uma região de referência”, assumiu.
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