A tensão subiu na PSA Mangualde por causa do banco de horas. A fábrica do grupo automóvel francês decretou semanas de seis dias de trabalho para julho e agosto por causa de um pico de produção. Os operários convocaram uma greve ao trabalho aos sábados, já a partir desta semana, e exigem negociar com a administração, que ameaça fechar a unidade do distrito de Viseu se não houver horário laboral flexível.
A partir deste sábado e até ao final deste mês, os operários estarão seis dias consecutivos, na linha de montagem, com turnos diários de até dez horas. Em troca, a PSA Mangualde diz que vai pagar um prémio extraordinário de 17 euros por cada sábado de trabalho a mais. Este cenário vai repetir-se em agosto: apesar de a fábrica parar três semanas, será necessário trabalhar nos sábados e domingos, na semana antes e depois da pausa de verão. Por esses quatro dias a mais, a PSA Mangualde compromete-se a pagar um prémio extraordinário de 50 euros.
Em resposta, os trabalhadores marcaram uma greve para obrigar a administração a negociar. “Já percebemos que o dinheiro não é tudo. A bolsa de horas, tal como está, dá cabo da vida dos trabalhadores. É tempo de negociar outro sistema”, defende Justino Pereira, dirigente do SITE – Centro Norte, sindicato afeto à CGTP. Sem adiantar muitos detalhes, Justino Pereira sugere, por exemplo, que a PSA Mangualde troque o banco de horas por um sistema de dias de não produção, semelhante ao da Autoeuropa, a fábrica do Grupo Volkswagen em Portugal.
Os dois sistemas têm, sobretudo, diferenças conceptuais: no banco de horas, as horas de não produção são depositadas na ficha do trabalhador e poderão ser utilizadas quando a empresa assim o necessitar, até um limite de duas horas a mais por dia, segundo o Código do Trabalho. No regime da Autoeuropa, os trabalhadores recebem, em dinheiro, os dias de não produção que ficarem por gozar.
A PSA Mangualde defende que o banco de horas é decisivo para a fábrica funcionar e lembra os encerramentos de fábricas automóveis anunciados na Europa nos últimos meses. “A aplicação dos objetivos contidos no pré-aviso de greve colocaria em risco a viabilidade do centro, já que nenhuma fábrica automóvel pode sobreviver sem a flexibilidade para se adaptar ao mercado e produzir os carros que são pedidos pelos clientes. E isto num contexto em que os dispositivos industriais na Europa enfrentam grandes desafios.”
Lembra ainda que está a aplicar o acordo de competitividade, válido desde 2016, e que foi subscrito pela comissão de trabalhadores. Neste acordo, está incluída uma bolsa de horas que serve para “salvaguardar o salário integral e o poder de compra dos colaboradores em períodos de baixa atividade e fraco volume de vendas”.
O sindicato garante que os níveis de absentismo estão a agravar-se e já atingem os 7%. A PSA Mangualde tem cerca de 800 trabalhadores a produzir os modelos comerciais ligeiros Citroën Berlingo e Peugeot Partner. A partir de setembro, irá juntar a montagem do Opel Combo, apoiando a fábrica da PSA de Vigo, em Espanha. A empresa não indica se vai precisar de laborar aos sábados depois do final de agosto.
Nos primeiros seis meses de 2019, a PSA Mangualde produziu 38 mil automóveis, mais 15,1% do que no mesmo período do ano passado (33 mil unidades). Desde abril de 2018, a fábrica do grupo liderado por Carlos Tavares labora com três turnos diários de produção.
Esta é a segunda ameaça de fecho deixada pela administração da PSA Mangualde. Em fevereiro de 2018, a empresa admitiu encerrar a fábrica caso o governo não alterasse as regras de classificação dos carros nas portagens. A situação acabou por ser corrigida em agosto do ano passado. Quase um ano depois, a tensão está de volta a Mangualde.
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